(Portuguese) Colombia: Uma Oportunidade Para a Paz
ORIGINAL LANGUAGES, 28 Feb 2011
Marcela Valente em Buenos Aires, Argentina – Brasil de Fato
Participantes do fórum Fazendo a Paz na Colômbia consideram o momento propício para avançar em uma saída política ao conflito armado de mais de 50 anos
A maior predisposição ao diálogo por parte do governo da Colômbia e a libertação de reféns pelas organizações guerrilheiras desse país formam um clima propício para avançar em uma saída política ao conflito armado de mais de 50 anos e que ainda derrama sangue no país.
Foi o que afirmaram dirigentes políticos, latino-americanos e europeus, acadêmicos e ativistas pela paz reunidos ontem em Buenos Aires, na Argentina, no fórum Fazendo a Paz na Colômbia, convocado pela ex-senadora colombiana, Piedad Córdoba.
Em conversa com a IPS, Piedad, destituída em seu primeiro mandato como senadora em setembro de 2010, sob a acusação de colaboração com a guerrilha, destacou que “o mais importante” da nova conjuntura é “o indício de disposição do governo para conseguir a paz”. O presidente conservador Juan Manuel Santos assumiu em agosto de 2010, após dois mandatos de seu antecessor, o direitista Álvaro Uribe, que promoveu uma política de segurança que piorou o conflito e suas graves consequências sociais e econômicas.
Santos tem uma atitude “mais conciliadora”, destacou o ex-presidente liberal Ernesto Samper (1994-1998), que participou do encontro por videoconferência, agradecendo a maior solidariedade com o conflito colombiano. “É algo que se deve aproveitar”, destacou Piedad, diretora da organização Colombianas e Colombianos pela Paz, que organizou o encontro de três dias em Buenos Aires para discutir as vias para se avançar em um processo de paz em seu país.
Na abertura do fórum foi divulgado um documento no qual os organizadores alertavam que o conflito militar na Colômbia “ameaça extrapolar” e que “está na consciência ética de toda a humanidade”. O informe exige a humanização do conflito e a construção da paz com justiça, superando tentativas fracassadas do passado e aproveitando a maior abertura do governo e das organizações rebeldes para um objetivo maior.
Da sessão de abertura também participaram o espanhol Federico Mayor Zaragoza, presidente da Fundação Cultura de Paz, e o prêmio Nobel da Paz Adolfo Pérez Esquivel, da Argentina, entre outros. A proposta do fórum foi discutir as razões para fazer a paz, o papel da comunidade internacional, as experiências na solução de outros conflitos armados e o direito humanitário.
Para Piedad, o desejo é o fim do conflito armado, mas enquanto isso não chega deve prevalecer a “ética da humanização”. Isto é, acrescentou, o tratamento humanitário a feridos e prisioneiros e o respeito aos direitos humanos em geral. Da conjuntura, os participantes destacaram como gestos positivos a libertação de reféns pelas Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) e pelo Exército de Libertação Nacional (ELN), as guerrilhas esquerdistas ativas.
O analista político Atilio Borón, convidado a falar sobre o papel da comunidade internacional no processo de paz, afirmou que as Farc “tiveram um gesto de destaque ao libertarem unilateralmente um número importante de reféns”. O presidente “Santos deveria reconhecer este fato sentando-se à mesa para encontrar uma solução negociada. Lamentavelmente, isso ainda não ocorreu, mas daqui o exortamos a fazê-lo, como foi feito na Irlanda, Guatemala ou El Salvador”, acrescentou.
Entre as lições aprendidas em processos de paz, foi apresentado o caso da Frente Farabundo Martí para a Libertação Nacional (FMNL), de El Salvador, representada por Nidia Díaz, uma dirigente histórica do agora partido de governo nesse país. Ela declarou à IPS que na Colômbia são fundamentais a atitude do governo, a solidariedade internacional e a humanização do conflito. “Até agora, houve libertação de reféns, mas a outra parte também deve demonstrar vontade”, afirmou.
Nidia, dirigente do Conselho Nacional da FMLN, recordou que em seu país o conflito armado durou 12 anos (1980-1992) e o diálogo demorou outros oito, dos quais dois foram de negociação. “Não foi fácil, mas primou a sensatez. A saída militar traria apenas destruição e perda de vidas humanas e quase nenhum progresso para o país. É necessário um acordo político que ponha fim às causas que originam o conflito”, destacou.
Os participantes insistiram em avançar em medidas de respeito aos direitos humanos, cuidados com os feridos e prisioneiros, entre outros aspectos que estão além do núcleo duro do confronto militar, e poderiam preparar o caminho para um acordo. Também concordaram que se está diante de uma conjuntura regional favorável, muito inclinada, em todos os países, a apoiar um eventual processo de paz na Colômbia por meio da União de Nações Sul-Americanas (Unasul), formada pelas nações da região.
Pérez Esquivel, por seu lado, desafiou o bloco a “ter um papel de destaque para alcançar a paz na Colômbia”, como teve para resistir à instalação de bases militares dos Estados Unidos em território desse país. Também considerou que os Estados Unidos “são um dos grandes responsáveis” pela guerra interna na Colômbia e exortou Washington a mudar sua política para a região e principalmente para Bogotá. Por sua vez, Piedad também afirmou que os Estados Unidos têm um papel a cumprir. “Será preciso esperar, mas ao menos tomando decisões para reduzir o apoio à guerra. Seja pelas circunstâncias que forem, nos parece importante”, afirmou.
Finalmente, Zaragoza considerou que a administração do presidente Barack Obama “deve fazer parte deste clamor mundial da Colombianas e Colombianos pela Paz”. Zaragoza disse à IPS que de Obama “deve-se esperar muito mais do que a continuidade de uma ação de força que é o que se mantém até agora”, e exortou Washington a patrocinar um encontro para debater sobre o narcotráfico. “Santos mostrou uma mudança considerável, também há disposição das Farc e do ELN. Por isso acreditamos que é o momento de apoiar com força o trabalho da Colombianas e Colombianos pela Paz”, concluiu Zaragoza, ex-diretor geral da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco).
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