(Português) A Maior Ameaça à Paz Mundial

ANGLO AMERICA, PALESTINE - ISRAEL, ORIGINAL LANGUAGES, 28 Jan 2013

Noam Chomsky – TRANSCEND Media Service

A Assembleia Geral da ONU aprovou, por 174 votos a seis, uma resolução na qual convida Israel a aderir ao TNP. Pelo não, votou o contingente habitual: Israel, Estados Unidos, Canadá, as Ilhas Marshall, Micronésia e Palau.

Há alguns meses, ao informar sobre o debate final da campanha presidencial nos Estados Unidos, o The Wall Street Journal observou que “o único país mais mencionado (que Israel) foi o Irão, que é visto pela maioria das nações do Médio Oriente como a principal ameaça à segurança da região”.

Os dois candidatos estiveram de acordo em que um Irão nuclear é a maior ameaça à região, se não ao mundo, como Romney sustentou explicitamente, reiterando uma opinião convencional.

Sobre Israel, os candidatos rivalizaram nas declarações de devoção, mas nem assim as autoridades israelitas se deram por satisfeitas. Esperavam “uma linguagem mais ‘agressiva’ de Romney”, segundo os repórteres. Não foi suficiente que o candidato republicano exigisse que não fosse permitido ao Irão “alcançar um ponto de capacidade nuclear”.

Também os árabes estavam insatisfeitos, porque os temores árabes sobre o Irão foram debatidos “sob a ótica da segurança israelita, não da região”, e as preocupações dos árabes não foram contempladas: uma vez mais, o tratamento convencional.

O artigo do Journal, como tantos outros sobre o Irão, deixa sem resposta perguntas essenciais, entre elas: Quem exatamente vê o Irão como a ameaça mais grave à segurança? O que os árabes (e a maior parte do mundo) acham que se pode fazer diante dessa ameaça, existindo ela ou não?

A primeira pergunta é fácil de responder. A ameaça iraniana é uma obsessão totalmente do Ocidente, compartilhada por ditadores árabes, embora não pelas populações árabes.

Como mostraram numerosas sondagens, mesmo que os cidadãos dos países árabes em geral não simpatizem com o Irão, não o consideram uma ameaça muito grave. Na verdade, percebem que a ameaça são Israel e Estados Unidos, e vários, muitas vezes maiorias consideráveis, veem nas armas nucleares iranianas um contrapeso a essas ameaças.

Em altas esferas dos Estados Unidos, alguns estão de acordo com a perceção das populações árabes, entre eles o general Lee Butler, ex-chefe do Comando Estratégico. Em 1998 ele disse: “É extremamente perigoso que, no caldeirão de animosidades a que chamamos Médio Oriente”, uma nação, Israel, deva contar com um poderoso arsenal de armas nucleares, “que inspira outras nações a tê-lo também”.

Ainda mais perigosa é a estratégia de contenção nuclear da qual Butler foi o principal formulador durante muitos anos. Tal estratégia, escreveu em 2002, é “a fórmula para uma catástrofe sem remédio”, convidando os Estados Unidos e outras potências atómicas a aceitar os compromissos contraídos dentro do Tratado de Não Proliferação Nuclear (TNP) e fazer esforços de “boa fé” para eliminar a praga das armas atómicas.

As nações têm a obrigação legal de levar a sério esses esforços, decretou o Tribunal Mundial em 1996: “Existe a obrigação de avançar de boa fé e levar a termo as negociações orientadas para o desarmamento nuclear em todos os seus aspetos, conforme um controlo internacional estrito e efetivo”. Em 2002, o governo de George W. Bush declarou que os Estados Unidos não estão comprometidos com essa obrigação.

Uma grande maioria do mundo parece compartilhar a opinião dos árabes sobre a ameaça iraniana. O Movimento de Países Não Alinhados (MNA) apoiou com vigor o direito do Irão de enriquecer urânio; a sua declaração mais recente aconteceu na cimeira de Teerão, em agosto passado.

A Índia, o membro mais populoso do MNA, encontrou forma de evitar as onerosas sanções financeiras dos Estados Unidos ao Irão. Executam planos para vincular o porto iraniano de Chabahar, recondicionado com assistência indiana, à Ásia Central, através do Afeganistão. Também se informa que as relações comerciais aumentam. Se não fossem as fortes pressões de Washington, é provável que estes vínculos naturais tivessem uma melhoria substancial.

A China, que tem estatuto de observadora no MNA, faz o mesmo, em boa medida. Expande os seus projetos de desenvolvimento para o Ocidente, entre eles iniciativas para reconstituir a antiga Rota da Seda para a Europa. Uma linha ferroviária de alta velocidade conecta a China com o Cazaquistão e além. É provável que chegue ao Turcomenistão, com os seus ricos recursos energéticos, e que se conecte com o Irão e se estenda até a Turquia e a Europa.

A China também tomou o controlo do importante porto de Gwadar, no Paquistão, que lhe permite obter petróleo do Médio Oriente, evitando os estreitos de Ormuz e Malaca, saturados de tráfico e controlados pelos Estados Unidos. A imprensa paquistanesa informa que “as importações de crude do Irão, dos estados árabes do Golfo e da África poderiam ser transportadas por terra até o noroeste da China, através deste porto”.

Na sua reunião de agosto, em Teerão, o MNA reiterou a sua velha proposta de mitigar ou pôr fim à ameaça das armas nucleares no Médio Oriente estabelecendo uma zona livre de armas de destruição em massa. Os passos nessa direção são, sem dúvida, a maneira mais direta e menos onerosa de superar essas ameaças, o que é apoiado por quase o mundo inteiro.

Surgiu recentemente uma excelente oportunidade de aplicar essas medidas, quando se planeou uma conferência internacional sobre o tema em Helsinki.

Realizou-se uma conferência, mas não a que estava prevista. Só organizações não governamentais participaram da reunião alternativa, organizada pela União pela Paz, da Finlândia. A conferência internacional planeada foi cancelada por Washington em novembro, pouco depois de o Irão ter concordado em comparecer.

A razão oficial do governo Obama foi “a turbulência política na região e a postura desafiante do Irão sobre a não proliferação” segundo a agência Associated Press, junto a uma falta de consenso sobre como abordar a conferência. Essa razão é a referência ao facto de que a única potência nuclear da região, Israel, se recusou a comparecer, alegando que a solicitação para fazê-lo era “coerção”.

Aparentemente, o governo Obama mantém a sua posição anterior de que “as condições não são apropriadas, a menos que todos os membros da região participem”. Os Estados Unidos não permitirão medidas para submeter as instalações nucleares de Israel a inspeção internacional. Também não revelará informação sobre “a natureza e alcance das instalações e atividades nucleares israelitas”.

A agência de notícias do Kuwait informou imediatamente que “o grupo árabe de Estados e os estados membros do MNA concordaram em continuar a negociar uma conferência para o estabelecimento de uma zona livre de armas nucleares no Médio Oriente, assim como de outras armas de destruição em massa”.

Recentemente, a Assembleia Geral da ONU aprovou, por 174 votos a seis, uma resolução na qual convida Israel a aderir ao TNP. Pelo não, votou o contingente habitual: Israel, Estados Unidos, Canadá, as Ilhas Marshall, Micronésia e Palau.

Dias depois, em dezembro, os Estados Unidos realizaram um teste nuclear impedindo, uma vez mais, o acesso dos inspetores internacionais ao local do teste, em Nevada. O Irão protestou, assim como o presidente da câmara de Hiroshima e alguns grupos pacifistas japoneses.

Claro que, para estabelecer uma zona livre de armas atómicas, se requer a cooperação das potências nucleares: no Médio Oriente, isso incluiria os Estados Unidos e Israel, que se negam a cooperar. O mesmo acontece noutros lugares. As zonas da África e do Pacífico aguardam a aplicação do tratado porque os Estados Unidos insistem em manter e melhorar as bases de armas nucleares nas ilhas que controlam.

Enquanto decorria a conferência de ONGs em Helsínquia, em Nova York realizava-se um jantar com o patrocínio do Instituto de Políticas sobre o Próximo Oriente, de Washington, ramificação do conselho israelita.

Segundo uma reportagem entusiasta acerca dessa “cerimónia” na imprensa israelita, Dennis Ross, Elliott Abrams e outros “ex-conselheiros de alto nível de Obama e Bush” asseguraram aos presentes que “o presidente atacará (o Irão) se a diplomacia não funcionar”: um presente de fim de ano muito atrativo.

É difícil que os norte-americanos estejam cientes de como a diplomacia voltou a falhar, por uma simples razão: virtualmente nada se informa nos Estados Unidos sobre o destino da forma mais óbvia de lidar com “a mais grave ameaça”: estabelecer uma zona livre de armas nucleares no Médio Oriente.

Do diario La Jornada.

MAIS:

Na sombra de Hiroshima, por Noam Chomsky

Noam Chomsky escreve – e fala – sobre o Occupy

A “perda do mundo”: o declínio dos EUA em perspetiva

Chomsky: O ataque ao Ensino Público

Go to Original – esquerda.net

 

Join the BDS-BOYCOTT, DIVESTMENT, SANCTIONS campaign to protest the Israeli barbaric siege of Gaza, illegal occupation of the Palestine nation’s territory, the apartheid wall, its inhuman and degrading treatment of the Palestinian people, and the more than 7,000 Palestinian men, women, elderly and children arbitrarily locked up in Israeli prisons.

DON’T BUY PRODUCTS WHOSE BARCODE STARTS WITH 729, which indicates that it is produced in Israel.    DO YOUR PART! MAKE A DIFFERENCE!

7 2 9: BOYCOTT FOR JUSTICE!

Share this article:


DISCLAIMER: The statements, views and opinions expressed in pieces republished here are solely those of the authors and do not necessarily represent those of TMS. In accordance with title 17 U.S.C. section 107, this material is distributed without profit to those who have expressed a prior interest in receiving the included information for research and educational purposes. TMS has no affiliation whatsoever with the originator of this article nor is TMS endorsed or sponsored by the originator. “GO TO ORIGINAL” links are provided as a convenience to our readers and allow for verification of authenticity. However, as originating pages are often updated by their originating host sites, the versions posted may not match the versions our readers view when clicking the “GO TO ORIGINAL” links. This site contains copyrighted material the use of which has not always been specifically authorized by the copyright owner. We are making such material available in our efforts to advance understanding of environmental, political, human rights, economic, democracy, scientific, and social justice issues, etc. We believe this constitutes a ‘fair use’ of any such copyrighted material as provided for in section 107 of the US Copyright Law. In accordance with Title 17 U.S.C. Section 107, the material on this site is distributed without profit to those who have expressed a prior interest in receiving the included information for research and educational purposes. For more information go to: http://www.law.cornell.edu/uscode/17/107.shtml. If you wish to use copyrighted material from this site for purposes of your own that go beyond ‘fair use’, you must obtain permission from the copyright owner.

One Response to “(Português) A Maior Ameaça à Paz Mundial”

  1. […] Read more from the original source: TRANSCEND MEDIA SERVICE » (Português) A Maior Ameaça à … […]