(Português) Brasil: O Preço da Gota d’Água
NONVIOLENCE, BRICS, LATIN AMERICA AND THE CARIBBEAN, JUSTICE, ACTIVISM, CAPITALISM, DEVELOPMENT, ORIGINAL LANGUAGES, 24 Jun 2013
Luís Leiria, Esquerda – TRANSCEND Media Service
Vinte centavos de aumento fizeram transbordar “um pote até aqui de mágoa”, como diz a canção.
Pergunta a circular no Brasil: qual o preço da gota d’água? Resposta: 20 centavos. A gota d’água é aquela que faz transbordar o copo, como na canção de Chico Buarque. Os 20 centavos são o aumento das passagens dos transportes de S. Paulo que despoletaram as maiores manifestações de rua no país desde que, em 1992, um grande movimento liderado pela juventude provocou a queda do presidente Fernando Collor.
Quem, como os portugueses, está longe do país irmão e inveja o pleno emprego que existe atualmente no Brasil, o crescimento do seu PIB e do mercado interno, quem vê Portugal invadido por turistas brasileiros de classe média com enorme poder de compra e a achar que aqui é tudo barato, não percebe nada. Mas então o Brasil não está melhor que nunca? A presidente Dilma não tem o maior apoio de sempre? O Brasil não é agora um país rico? De que se queixam, então? De 20 centavos?
Não, não é de 20 centavos (apenas), tal como os turcos não se queixam (só) da destruição do Parque Gezi de Istambul.
Os manifestantes queixam-se, em primeiro lugar, do preço exorbitante dos transportes públicos, num país onde praticamente não há passes sociais e muitos milhares de trabalhadores andam horas a pé diariamente para poupar o preço da passagem ou dormem na rua, durante a semana, porque não têm dinheiro para ir dormir a casa. E, já agora, sofrem com a péssima qualidade de um serviço que é quase totalmente prestado por concessionários privados que tiram dele enormes lucros.
Mas as queixas não vão apenas para os transportes.
O país que vai sediar o Mundial de futebol e as Olimpíadas e está a gastar rios de dinheiro com estádios é o mesmo que está em 88º lugar no ranking mundial da educação, entre 126 países, ficando atrás de Honduras, Equador e Bolívia. O mesmo país em que o salário dos professores é uma vergonha, e quando estes se mobilizam são tratados com repressão. O mesmo país em que o serviço público de saúde é só para os mais pobres dos pobres, e toda a classe média, mesmo a baixa, tem um plano de saúde privado, se quer sobreviver.
Por isso a palavra de ordem “da Copa eu abro mão, quero dinheiro para saúde e educação!”, tão gritada nas manifestações do “país do futebol” é realmente popular e sentida.
E finalmente, queixam-se da falência do sistema político. Sempre que há eleições no Brasil parece que a grande disputa é entre a direita (PSDB) e a esquerda (PT e aliados). Deixando de lado o facto de que entre os aliados do PT estão partidos que fariam corar de vergonha o CDS português, de tão conservadores que são, o sistema político realmente existente surge quando eventos como o dos protestos de S. Paulo ocorrem. O governador de S. Paulo é do PSDB; o prefeito (presidente da câmara) da capital é do PT. Mas ambos defenderam o aumento dos preços dos transportes, ambos defenderam a repressão, ambos acusaram os manifestantes de baderneiros (desordeiros) e vândalos, ambos disseram que não negociavam com violência. Só que a violência era a da polícia, não dos manifestantes.
Também se queixam do tratamento dado pelos média aos movimentos sociais, como o que organiza os protestos contra o aumento dos preços dos transportes. A Folha de S. Paulo, o principal jornal do estado, só parou de insultar os manifestantes e de responsabilizá-los de toda a violência quando no dia 13 de junho teve quase uma dezena de repórteres feridos pelas cargas policiais. A história é antiga e repete-se ciclicamente. Quando, em 1984, a ditadura caiu pela força das mobilizações das “Diretas Já”, a rede Globo, no início, ignorava concentrações de centenas de milhares de pessoas. Era como se não existissem. Daí nasceu o slogan “O povo não é bobo, fora a rede Globo!”, que mais uma vez foi gritado em S. Paulo esta segunda-feira, quando a equipa da reportagem da Globo foi expulsa da manifestação.
Tudo isto foi enchendo o copo. Transbordou com uma gota d’água de 20 centavos.
DISCLAIMER: The statements, views and opinions expressed in pieces republished here are solely those of the authors and do not necessarily represent those of TMS. In accordance with title 17 U.S.C. section 107, this material is distributed without profit to those who have expressed a prior interest in receiving the included information for research and educational purposes. TMS has no affiliation whatsoever with the originator of this article nor is TMS endorsed or sponsored by the originator. “GO TO ORIGINAL” links are provided as a convenience to our readers and allow for verification of authenticity. However, as originating pages are often updated by their originating host sites, the versions posted may not match the versions our readers view when clicking the “GO TO ORIGINAL” links. This site contains copyrighted material the use of which has not always been specifically authorized by the copyright owner. We are making such material available in our efforts to advance understanding of environmental, political, human rights, economic, democracy, scientific, and social justice issues, etc. We believe this constitutes a ‘fair use’ of any such copyrighted material as provided for in section 107 of the US Copyright Law. In accordance with Title 17 U.S.C. Section 107, the material on this site is distributed without profit to those who have expressed a prior interest in receiving the included information for research and educational purposes. For more information go to: http://www.law.cornell.edu/uscode/17/107.shtml. If you wish to use copyrighted material from this site for purposes of your own that go beyond ‘fair use’, you must obtain permission from the copyright owner.
Read more
Click here to go to the current weekly digest or pick another article:
NONVIOLENCE:
- Can Nonviolent Struggle Defeat a Dictator? This Database Emphatically Says Yes
- A Nonviolent Resistance Movement Is at Work in Palestine--Activists Say It’s the Only Way Forward
- How the Psychology of Oppression Perpetuates Harm to Animals and the Environment
BRICS:
- BRICS Expands to 54.6% of World Population by Adding Nigeria, Africa’s Most Populous Country
- BRICS Expands with Nine New Partner Countries
- BRICS’ Daringly Autonomous Model for Financial Sovereignty
LATIN AMERICA AND THE CARIBBEAN:
- 'Far too Little, far too Late,' Say Critics as Biden Finally Removes Cuba from Terror List
- Haiti Displacement Triples Surpassing One Million as Humanitarian Crisis Worsens
- Cuba Expresses Solidarity with Venezuela and Condemns New US Sanctions
JUSTICE:
- Ireland Formally Joins ICJ Genocide Case against Israel
- Good and Bad War Criminals
- Meetings at The Hague Reveal Crisis and Turmoil, as State Representatives Grapple with Israeli Warrants
ACTIVISM:
- Act Now against These Companies Profiting from the Genocide of the Palestinian People
- Conscientious Objectors Refuse to Enlist in the Israeli Army: “Get Out of Gaza Now!”
- Lee Lakeman and the Whoredom of the Left
CAPITALISM:
- Trillions in Dirty Money: How Hidden Loopholes Fuel Corruption and Inequality
- Duty Free: Life and Luxury beyond the Nation-State
- Companies Profiting from the Gaza Genocide
DEVELOPMENT:
- Why Climate Change Is an Irrelevance, Economic Growth Is a Myth and Sustainability Is Forty Years Too Late
- Is Growth Passé?
- The Threat 5G Poses to Human Health
ORIGINAL LANGUAGES: