(Português) De volta para a Igreja: Cuba restitui templos cristãos

ORIGINAL LANGUAGES, 5 Jan 2015

O Globo – TRANSCEND Media Service

Governo de Havana acelera devolução de propriedades católicas tomadas na década de 60.

Um vigia caminha dentro da capela da antiga Universidade de Santo Tomás de Villanueva , em Havana: deteriorado, espaço agora volta a pertencer à Igreja Católica - Ramon Espinosa / AP

Um vigia caminha dentro da capela da antiga Universidade de Santo Tomás de Villanueva , em Havana: deteriorado, espaço agora volta a pertencer à Igreja Católica – Ramon Espinosa / AP

Enquanto outra reabertura ganhava os holofotes na semana passada, quando os governos de Cuba e dos Estados Unidos anunciavam ao mundo o fim das hostilidades, pelo menos diplomáticas, outra mudança, silenciosamente, ia tomando forma. De maneira discreta, as autoridades cubanas vêm acelerando a restituição de antigas propriedades da Igreja Católica, que por muitos anos manteve uma relação conturbada com os Castro. O processo de devolução começou em 2009 e, até agora, pelo menos 12 imóveis voltaram para a Santa Sé.

É um gesto muito positivo e, principalmente no âmbito local, cria um ambiente de confiança — afirma o padre José Félix Pérez, secretário-adjunto da Conferência dos Bispos Católicos de Cuba. — Mas está acontecendo, é preciso destacar, gradualmente.

Uma das propriedades devolvidas para a Igreja é a capela da antiga Universidade de Santo Tomás, em Miramar, bairro da capital, Havana. As grossas paredes cobertas de azulejos bizantinos com desenhos de santos ainda estão de pé. Mas a metade do teto de madeira e parte dos vitrais coloridos foram destruídos.

O processo inclui ainda algumas propriedades valiosas ao longo do país, como o antigo Colégio dos Padres Jesuítas, um edifício na cidade de Cienfuegos, a 250 quilômetros da capital. Ao longo dos anos, o governo usou os espaços como lojas, padarias, lanchonetes e escolas, o que explica, em parte, a degradação. Entre as propriedades em pior estado de conservação estão templos em Santiago de Cuba, San Jose Obrero e San Benito, uma casa paroquial e alguns edifícios que eram ocupados por lojas na região.

Existem dois fatores. Um é o econômico, já que o governo cubano não tem recursos para melhorar a infraestrutura em processo de deterioração. O outro, é de caráter religioso e político, para ressaltar a imagem de que a relação com a Igreja Católica vem melhorando, que é parte deste momento histórico novo que trata de tentar reconstruir o país — explica Enrique López Oliva, professor de história das religiões da Universidade de Havana.

A emblemática mediação do Papa Francisco no acordo com os EUA é a prova máxima dessa aproximação. Mas o Vaticano e as conferências episcopais dos Estados Unidos e de Cuba têm incentivado a normalização das relações entre os dois governos há muito tempo, segundo Stephen Colecchi, diretor do Escritório de Justiça e Paz Internacional, da Conferência dos Bispos Católicos dos EUA:

Isso era necessário há muito tempo.

Quando o anúncio foi finalmente feito, Dom Thomas Wenski, arcebispo de Miami — cidade com grande população de cubano-americanos — emitiu um comunicado ressaltando que Barack Obama e Raúl Castro agradeceram pelo papel desempenhado pelo Papa em tornar possível “o que parece ser uma verdadeira guinada no relacionamento historicamente tenso entre Cuba e os EUA”.

“O Papa Francisco fez o que se espera dos papas: construir pontes e promover a paz”, ressaltou o arcebispo, em nota.

Visita de papas

Em 1998, quando João Paulo II visitou Cuba, muitos esperavam que ele denunciasse o comunismo. Mas o pontífice se mostrou aberto a conversar com Fidel Castro — e o resultado foi a restauração do feriado nacional de Natal. Da mesma forma, quando Bento XVI esteve no país, em 2012, manteve-se aberto ao diálogo com Castro.

A Igreja em Cuba já não enfrentava as mesmas dificuldades que teve no começo, porque, desde a vinda do Papa João Paulo II, houve uma mudança muito marcante nas relações entre a Igreja e o Estado — disse, na semana passada, o cardeal cubano Jaime Ortega, importante mediador que ajudou na libertação de presos políticos no país.

Poucos meses antes do anúncio, em outubro, em um sinal de distensão da relação entre o regime e o Vaticano, a Igreja Católica em Cuba anunciou que, pela primeira vez desde a revolução, iria construir um novo templo na ilha no município de Sandino, na província de Pinar del Río. Criada no começo dos anos 60, a cidade não tinha nenhuma igreja.

O santuário terá capacidade para 200 pessoas e ocupará uma área de 800 metros quadrados. O titular da paróquia será Cirilo Castro — sem parentesco com os irmãos que governam a ilha desde a revolução armada e decretaram o país um Estado ateu.

Uma relação tumultuada

Apesar de Cuba ser um país de tradição católica, a religião já não é a maioria entre a população. Predominam as crenças afro-cubanas, trazidas pelos escravos. O número de cubanos batizados corresponde a cerca 60% da população, segundo dados do Vaticano, mas especialistas estimam em 30% os praticantes. Destes, 5% frequentam missas regularmente.

Após o triunfo da revolução, a Igreja Católica não conseguiu manter uma boa relação com o Estado. Fidel Castro nacionalizou muitas das propriedades, e alguns dos locais passaram a ser usados para guardar armas de grupos anticastristas. A Igreja também ajudou a promover a operação “Peter Pan” organizada pela Inteligência americana, que tirou muitas crianças cubanas do país, com o consentimento dos pais. O argumento era que os revolucionários comunistas iriam tirar suas custódias.

O governo cubano, por outro lado, perseguiu muitos fiéis. O diálogo com membros das Igreja começou a ser retomado apenas nos anos 90 — uma iniciativa do então presidente Fidel Castro, que autorizou pela primeira vez a visita dos papas João Paulo II e Bento XVI à ilha.

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