(Português) Festas de Primeiro Aniversário
ORIGINAL LANGUAGES, 16 Mar 2015
Tereza Halliday – TRANSCEND Media Service
Mortalidade infantil antes de completar o primeiro ano de vida traumatizou gerações e ainda faz parte de algumas estatísticas da população desvalida de pré-natal e saneamento. Talvez, inconscientemente, pais e mães façam grandes comemorações quando a criança sadia completa doze meses de vida. Como para exorcizar o medo ancestral da mortalidade prematura. Só que o aniversariante ainda não entende da festa em sua honra – grande sucesso da casa de eventos que conseguiu marqueteá-la: festa para adultos e crianças maiores, com todos os penduricalhos – diversões agitadas, bolinhos, doces, refrigerantes – quando não uísque para os maiores de idade. E as indefectíveis lembrancinhas comemorativas que os convidados, depois, não sabem o que fazer com elas, em apartamentos cada vez mais carentes de espaço para depósito.
Sendo de outra geração, celebrei todos os aniversários do meu filho com festa pequena e alegria grande. Em casa. Não faltava o bolo ritual com velinhas, nem as fotos documentais, sem precisar de pau de selfie, pois um amigo sempre se oferecia para bater foto onde pai, mãe e aniversariante pudessem sair juntos. Nos 11 anos, foi especial: jantar somente para nós três, em restaurante onde havia show de mágica – sua grande curtição.
Os aniversários de criança tornaram-se megaeventos. Excesso de decibéis, estética própria com festas temáticas. Afinal, é preciso dar graças pela vitória daquela vida em pleno desenvolvimento e retribuir as festas para as quais se foi convidado. Um pouco de ostentação, para quem gosta. Muitos não dispensam este ato público de amor, que vai ficar registrado em arquivos eletrônicos, raramente consultados anos depois. Colhem estatísticas de curtidas pelos Facebooks e Whatsapps – medida de popularidade e vaidade dos pais, avós, tios, por aquele “sangue do meu sangue” sendo gente. Mas o importante mesmo é esse ato público selado em privado, no fim da noite, com beijo e bênção na cabeça do (a) fofinho (a) – este sim, gesto necessário e inesquecível pela vida a fora.
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Tereza Halliday, “Artesã de Textos”, Ph.D. em Comunicação Pública pela University of Maryland-USA. Profª aposentada da UFRPe. Analista de discurso, jornalista, vários livros publicados, entre retórica e literatura infanto-juvenil. Trabalha com editoração de textos.
Diário de Pernambuco, 9 mar 2015
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