(Português) Vaquejada: abuso de bois e cavalos no Brasil

ORIGINAL LANGUAGES, 9 Nov 2015

Lisa Kemmerer, Francisco Matos, Eloah Vieira e Tiago Barreto - ANDA Agência de Notícias de Direitos Animais

Vaquejada. Foto: Lisa Kemmerer.

Vaquejada. Foto: Lisa Kemmerer.

4 de novembro de 2015 – Um pequeno boi, provavelmente pesando menos de 270 quilos, é escoltado por dois vaqueiros a cavalo. Um dos vaqueiros, o batedor de esteira, pega o rabo do boi, forçando-o a seguir em frente. Quando eles se aproximam de uma área delimitada por duas faixas brancas de giz, o batedor entrega o rabo do boi ao outro vaqueiro, o puxador, que agarra o rabo, montado no cavalo se inclina, deslocando a traseira do boi para o lado e derrubando-o no chão. Neste momento, o boi não só cai ao chão, como dá voltas, ficando, muitas vezes, com suas patas para cima, enquanto seu rosto desaparece em meio a poeira. Em seguida à queda, o batedor de esteira impõe seu cavalo sobre o boi caído, garantindo que este fique e se levante entre as duas linhas brancas, exigência da vaquejada. Para isso, os cascos do cavalo são agitados e empinados sobre a cabeça e as patas do boi, enquanto este se esforça para levantar, mas suas patas traseiras parecem paralisadas. Ele levanta sua cabeça várias vezes para tentar se mover, porém, em vão, não consegue se levantar e acaba deitando a cabeça, visivelmente angustiado. O tufo de cabelo da ponta de seu rabo, violentamente arrancado pelo puxador quando o derrubou, está na terra ao seu lado. Até que um assistente se direciona ao boi e o pega pelo rabo, puxando-o com força para ficar de pé. O boi levanta e se move com dificuldade em direção à porteira de um curral, em que os bois aguardam para voltarem a uma segunda, terceira ou até mesmo quarta corrida e derrubada pelos vaqueiros.

Bois presos. Foto: Lisa Kemmerer

Bois presos. Foto: Lisa Kemmerer

Os bois forçados a participar de vaquejadas se mostram completamente aterrorizados, sendo controlados unicamente através de dor e medo. Depois de participarem da primeira disputa, os bois já sabem o que lhes aguarda – serão forçados entre dois imponentes cavalos, puxados fortemente pelo rabo, levados à uma dura queda, e depois ficarão sob os cascos dos cavalos que o guiaram ao chão. Os espectadores não vêem como os bois são tratados minutos antes de entrarem na pista de competição. Eles são empurrados, à tapas e paus, para um pequeno corredor estreito e forçados a sair por um portão onde as duplas de vaqueiros os aguardam, prontas para conduzi-los entre os seus cavalos e derrubá-los. O boi que está mais a frente da fila, prestes a entrar na pista de competição, fica separado dos demais por uma madeira e bate sua cabeça e suas patas contra o portão. Conforme cada boi segue pelo estreito corredor e sai pelo portão para a pista de competição, um outro grupo de bois é forçado por varas e gritos a caminhar para frente.

Aterrorizados e desesperados, os bois sobem uns nas costas dos outros, se derrubam, se pisoteiam como se tentassem escapar, enquanto urinam continuamente uma urina de medo. Como os bois não têm para onde ir, presos pela frente e por trás, tudo se transforma em uma grande confusão de pernas, cabeças, pescoços e rabos se contorcendo.

Cavalo ferido. Foto: Lisa Kemmerer

Cavalo ferido. Foto: Lisa Kemmerer

Enquanto o gado sofre um dia de dor e medo sem sentido, forçados a participar da vaquejada, também ocorre crueldade contra os cavalos destes eventos. Tiras de metais com pontas são colocadas nos cavalos, acima de seus narizes e abaixo de seus queixos, para garantir que o vaqueiro conseguirá, em qualquer circunstância, fazer o cavalo parar de ir para frente. Os vaqueiros também usam esporas com grandes pontas que eles pressionam contra a barriga dos cavalos, machucando-os até o sangue. É fácil de visualizar cicatrizes nos cavalos causadas pelas esporas e tiras de metais em seus queixos e narizes; vários deixam a competição com sangue pingando sobre lesões antigas que nunca cicatrizam devido às contínuas agressões. Os vaqueiros muitas vezes usam esporas e rédeas simultaneamente para fazer parecer que suas montarias são poderosas e difíceis de controlar, mas o contrário é que a verdade – estes cavalos são empinados e controlados, com olhos arregalados e espumando pela boca porque eles têm medo de ir para frente e/ou de ficar parados, pois estão encurralados por esporas de prata pontiagudas e ameaçadoras garras de metal.

Ferramentas usadas para controlar os cavalos. Foto: Lisa Kemmerer

Ferramentas usadas para controlar os cavalos. Foto: Lisa Kemmerer

Registros indicam que vaqueiros derrubam bois pelos rabos desde 1870, mas isto só teria se transformado em uma competição (digamos que sádica) por volta de 1940 no Nordeste brasileiro. Hoje em dia, vaqueiros pagam em média 300 reais para competir, e se gera cerca de 600 milhões de reais por ano para aqueles que vencem, para aqueles que comercializam os cavalos e os bois, para aqueles que vendem comida e bebida durante a vaquejada e assim por diante. Embora a Constituição Brasileira proíba crueldade contra animais, esta prática cruel fica mais difícil de ser controlada e proibida por conta dos enormes lucros que estão em jogo.

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Enquanto você lê esta notícia, os/as ministros/as do Supremo Tribunal Federal (STF) estão debatendo a ação direta de inconstitucionalidade (ADI) nº 4983 que julga a Lei 15.299/13 como inconstitucional. A Lei 15.299/13 instituiu a vaquejada como um esporte e evento cultural no estado do Ceará. Se ADI nº 4983 for aprovado e esta lei for declarada inconstitucional, abrirá um ótimo precedente pela deslegitimação de eventos desta natureza.

O relator desta ação de inconstitucionalidade, Ministro Marco Aurélio Mello, já deu seu parecer pela inconstitucionalidade (a favor da ADI nº4983), agora os/as demais ministros/as terão que votar. Por favor, ajude-nos a parar com esta crueldade e exploração contra bois e cavalos. A vaquejada é cruel demais para ser aceita como um esporte no Brasil. Por favor, envie uma mensagem para os/as ministros/as do STF convocando-os/as a votar a favor da ADI nº 4983, através dos seguintes contatos:

  • Ministro Ricardo Lewandowski: atendimentogablewandowski@stf.jus.br
  • Ministro Marco Aurélio (relator do processo): marcoaurelio@stf.jus.br
  • Ministro Gilmar Mendes: audienciasgilmarmendes@stf.jus.br
  • Ministra Cármen Lúcia: audienciacarmen@stf.jus.br
  • Ministro Dias Toffoli: gabmtoffoli@stf.jus.br
  • Ministro Luiz Fux: gabineteluizfux@stf.jus.br
  • Ministra Rosa Weber: audiencias-minrosaweber@stf.jus.br
  • Ministro Teori Zavascki: gabteori@stf.jus.br
  • Ministro Roberto Barroso: audienciamlrb@stf.jus.br
  • Ministro Celso de Mello: gabcob@stf.jus.br
  • Ministro Edson Fachin: gabineteedsonfachin@stf.jus.br

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Agradecimentos especiais para Bárbara Bastos, Elzabeth Mac Gregor e Fernando Pires.

Traduzido por Eloah Vieira e Francisco Matos

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