(Português) Poluição luminosa: fortes reflexos na vida dos animais

ORIGINAL LANGUAGES, 22 Aug 2016

Eliza Rei | ANDA-Agência de Notícias de Direitos Animais – TRANSCEND Media Service

8 de agosto de 2016 – Assistindo um documentário sobre a poluição luminosa (CHENEY, Ian. A luz que vem da escuridão, Rooftop Films/Edgeworx Studios/Wicked Delicate Films LLC, EUA, 2011), algo me chamou muito a atenção: pouco se fala sobre esse problema em nossas vidas, muito menos sobre o impacto que causa na vida dos animais (ambos os aspectos foram abordados no documentário).

Foto: Eliza Rei

Foto: Eliza Rei

A Terra manteve durante milhões de anos os ciclos de dias claros alternados com noites escuras, mas do século passado para cá isso vem se alterando drasticamente. O aumento das populações urbanas, e com elas a ampliação das atividades noturnas demandando maior (e por mais tempo) iluminação nas cidades, tem sido o principal fator de poluição luminosa.

Há alterações para a saúde humana e o meio ambiente. Desequilíbrios ambientais pelo alto consumo de energia não renovável, e seus impactos diretos sobre os ecossistemas; diminuição da variação das condições de luz e escuridão, e seus impactos sobre a distribuição de recursos naturais e a biodiversidade; riscos aos processos naturais que só ocorrem à noite, inclusive em relação às plantas, que acabam por perder o padrão sazonal; interferências no ritmo circadiano, uma herança longamente trazida pelos seres, habituados ao ciclo de 24h do planeta; reações em cadeia com a extinção de espécies, enfim, são algumas constatações dos efeitos desse tipo de poluição.

E o que se sabe sobre os impactos da poluição luminosa na vida dos animais?

Se cerca de 30% dos vertebrados e 60% dos invertebrados têm hábitos noturnos, já se infere, de início, que os impactos não devem ser poucos.

De um modo geral, os seguintes processos e comportamentos são afetados: navegação celeste, relações, competições, repouso, recuperação, predação, alimentação, reprodução, fisiologia etc. Além desses impactos gerais, especificamente para alguns animais já foi observado o seguinte:

  • insetos: atraídos para as fontes luminosas, mantêm-se nelas fixados (ou à sua volta) até a morte, e/ou se tornam presas fáceis;
  • peixes: dependendo da espécie, podem ser atraídos ou afastados em razão da luminosidade, modificando importantes comportamentos e/ou se tornando alvos fáceis;
  • anfíbios: ficam bastante confusos com as luzes à noite, e alteram padrões de reprodução;
  • tartarugas: as fêmeas evitam locais claros para a nidificação, limitando cada vez mais suas possibilidades; os filhotes que nascem na areia das praias antes se orientavam bem, em busca do mar, pelo reflexo das estrelas na água, mas agora se confundem com a iluminação urbana, que além de ofuscar as estrelas, os atraem para o lado oposto ao que deveriam seguir, e assim acabam morrendo por acidentes ou desidratação, dentre outras causas não naturais;
  • mamíferos selvagens: perdem o ecossistema noturno, a alimentação e a reprodução declinam, e têm a visão enfraquecida, tudo favorecendo o aumento da mortalidade e, até, a extinção de espécies;
  • aves: migratórias ou não, perdem a orientação pela redução da luminosidade das estrelas; nas plataformas de petróleo e pescaria, as aves marinhas são atraídas para a luz, chocam-se nas construções e também morrem pela presença do óleo e do calor intenso, além de terem reduzidas suas reservas energéticas ao voarem em torno da luz, afetando sua rota rumo à costa e à nidificação; são também atraídas para as cidades pelas luzes do exterior e do interior das edificações, e muitas, muitas mesmo, colidem nesses prédios, morrendo.

Muitos outros reflexos da poluição luminosa certamente ocorrem sem que tenhamos, ainda, a exata noção. Porém, com o que já se sabe, o que pode ser feito para mudar os fortes reflexos na vida dos animais?

Uma das opções mostradas no referido documentário é a forma da disposição das luminárias, de modo a não espalhar demais a luz emitida. Mas será o bastante?
Sabemos que não. Além das medidas pontuais para cada situação que envolva diferentes espécies, na tentativa de recuperação, precisamos mudar também a forma como pensamos as cidades, incluindo as projeções de nossas opções sobre a vida dos animais e dos ecossistemas, ou seja, prever os impactos que causaremos ao decidirmos sobre alguma inovação, em toda sua extensão espacial e temporal possível.

Enquanto não entendermos o planeta, o meio ambiente e os animais como parte do todo a que pertencemos, e que não se fragmenta, continuaremos afetando esse todo ao impormos sofrimento, destruição e morte a tudo o que existe, inclusive a nós mesmos.

Em fotografia, sabemos o muito que se perde com uma superexposição de luz. Talvez consigamos, por um exercício imaginário assim, nos colocar no lugar de um ser noturno a ter que viver diuturnamente nesse excesso. Quem conseguiria suportar sem nada sofrer com os graves estragos?

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