(Português) Pela 1ª vez desde 2004, Brasil fica estagnado no Índice de Desenvolvimento Humano da ONU
ORIGINAL LANGUAGES, 27 Mar 2017
Em 2015, maior recessão da História freou avanço constante do país no indicador.
21 Mar 2017– Pela primeira vez desde 2004, o Brasil estacionou no ranking do desenvolvimento humano. A maior recessão da história fez a renda da população despencar e freou o avanço constante que se observava no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), calculado pelas Nações Unidas, desde 1990. Ele permaneceu em 0,754 entre 2014 e 2015 e manteve o Brasil na 79ª posição num ranking de 188 nações. Pelos critérios da ONU, quanto mais próximo de 1, maior é o desenvolvimento humano de um país. O IDH é calculado com base em indicadores de saúde, educação e renda.
Inicialmente, a Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) havia informado que o índice brasileiro crescera continuamente desde 1990. Uma versão anterior desta reportagem informava que a estagnação era a primeira em 25 anos. Dados divulgados na tarde desta terça-feira, no entanto, mostram que o IDH brasileiro recuou em dois momentos nesse período: primeiro em 2003, e depois em 2004, quando o índice passou de 0,695 para 0,694.
A coordenadora do Relatório de Desenvolvimento Humano (RDH) Nacional, Andréa Bolzon, afirmou, nesta terça-feira, que o fato de o Brasil ter ficado estagnado no desenvolvimento humano em 2015 acende uma luz amarela para o país. Ela destacou que o país vinha melhorando consistentemente desde 1990, mas pisou no freio por causa da queda na renda.
– É uma luz amarela – disse ela.
Outro aspecto preocupante, segundo Andréa, é o fato de o Brasil perder posições no desenvolvimento humano quando o indicador é calculado levando em consideração as desigualdades. Quando elas entram na fórmula, o Brasil perde nada menos que 19 posições no ranking do desenvolvimento humano. O país só fica atrás do Irã (que perde 40 posições) e de Botsuana (que perde 23). Também neste caso, a renda é o principal problema brasileiro. Ela é o principal fator de desigualdade entre os brasileiros.
De acordo com o Relatório de Desenvolvimento Humano (RDH) 2016, divulgado nesta terça-feira pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), o Brasil – que está na lista de nações com alto desenvolvimento humano – conseguiu avanços discretos em saúde e educação. A expectativa de vida ao nascer, por exemplo, subiu de 74,5 anos para 74,7 anos. Já a média de anos de estudo passou de 7,7 anos para 7,8 anos entre 2014 e 2015. A expectativa de anos de estudo (quanto tempo se espera que uma pessoa passará na escola) ficou em 15,2 anos.
No entanto, a Renda Nacional Bruta (RNB) per capita caiu de US$ 14.858 para US$ 14.145, o que representa uma retração de 4,8%. Segundo a coordenadora do RDH, esse foi o fator responsável pela estagnação do IDH brasileiro. Ela destacou que apenas cinco países não conseguiram avançar no ranking da ONU.
— Subir uma ou duas posições não é difícil no ranking do IDH. Por isso a estagnação do Brasil é algo significativo e preocupante — disse Andréa.
Ranking geral
O cálculo do IDH é feito a partir de três aspectos principais da população: renda, educação e saúde. Quanto mais esses três aspectos apresentarem melhorias, melhor será o IDH de um país.
O país divide o IDH de 0,754 com a ilha caribenha de Granada. A Noruega continua no topo da lista do Pnud, com um índice de 0,949. Em último lugar está a República Centro Africana, com um IDH de 0,352. No campeão do desenvolvimento humano, a expectativa de vida ao nascer é de 81,7 anos (7 anos a mais que no Brasil). A expectativa de anos de estudo dos noruegueses é de 17,7 (2,5 anos a mais que a dos brasileiros) e a média de anos de estudo é de 12,7 (quase cinco a mais que no Brasil). Já a RNB per capita na Noruega é de nada menos que US$ 67.614.
A coordenadora do Pnud destacou que mais de 29 milhões de pessoas saíram da pobreza no Brasil entre 2003 e 2013. No entanto, entre 2014 e 2015, o quadro voltou a piorar. O total de pessoas em situação de pobreza (que vivem com R$ 140 per capita por mês) subiu de 8,1 milhões para 9,96 milhões nesse período. Já a população em extrema pobreza (que vive com R$ 70 per capita por mês) passou de 22,09 milhões para 24,3 milhões. Isso acaba se refletindo no desenvolvimento humano.
Andréa destacou que o Brasil apresentava aumentos consistentes no IDH desde que o índice passou a ser publicado. Nesse período, a expectativa de vida subiu quase 10 anos (de 65,3 anos para 74,7 anos), a expectativa de anos de estudo cresceu 3 anos (12,2 anos para 15,2 anos) e a média de anos de estudo, 4 anos (de 3,8 anos para 7,8 anos). Já a RNB per capita cresceu de US$ 10.746 para US$ 14.145. Essas evoluções fizeram com que o IDH brasileiro saltasse de 0,611 para 0,754 de 1990 a 2015, um ganho de 23,4%.
“O Brasil apresenta crescimento contínuo, estagnado no ano recente, com um aumento mais marcado por volta dos anos 2012 a 2014”, afirma o Pnud. Ainda segundo as Nações Unidas, dos 78 países que têm IDH acima do brasileiro, apenas quatro (Andorra, Arábia Saudita, Seicheles e Maurício) tiveram desenvolvimento humano mais acelerado que o brasileiro entre 2010 e 2015.
O representante do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) no Brasil, Niky Fabiancic, afirmou, nesta terça-feira, que o Brasil é um dos destaques do Relatório de Desenvolvimento Humano (RDH) 2016. O documento faz referência a políticas adotadas pelo governo brasileiro como exemplos a serem seguidos (como Lei Maria da Penha, benefício assistencial ao idoso, sistema de cotas na universidade):
– A presença dessas políticas reforça que os números já mostram: o Brasil tem avançado de maneira consistente no IDH nos últimos 20 anos.
Mesmo assim, Fabiancic destacou que o Brasil tem problemas que precisam ser resolvidos urgentemente, como pobreza ainda elevada, desemprego e recessão econômica. Segundo ele, o Pnud está atento às propostas do governo para as reformas do ensino médio, previdência, trabalhista e tributária.
LÍBIA E SÍRIA SÃO OS QUE MAIS CAEM
O Relatório de Desenvolvimento Humano (RDH) 2016 mostra que a Líbia e a Síria são os dois países que mais perderam posições no ranking do desenvolvimento humano em 2015. A Líbia recuou 35 posições, enquanto a Síria recuou 29 posições. Isso porque os dois são países que vivem situações de guerra, o que ameaça a esperança de vida, o estudo da população e a renda.
Por outro lado, Ruanda e Zimbábue foram os que mais cresceram no IDH. Ruanda teve taxa média de aumento anual de 2,89% entre 1990 e 2015. Zimbábue foi 2,67% entre 2010 e 2015. Segundo Andréa Bolzon, coordenadora do RDH Nacional, isso ocorre porque esses países vêm de uma base muito baixa de comparação.
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Leia Mais: Entenda o que é e para que serve o IDH
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