(Português) Dieta sem glúten para pessoas sem doença celíaca pode ser prejudicial

ORIGINAL LANGUAGES, 8 May 2017

Cesar Baima – O Globo

Pesquisa mostra relação entre baixa ingestão destes alimentos e doenças cardíacas.

Pesquisadores de Harvard e Columbia analisaram a relação entre ingestão de glúten e doenças cardiovasculares. Bárbara Lopes / Agência O Globo

3 maio 2017– Guiadas por noções equivocadas, relatos de celebridades ou simples modismo, nos últimos anos mais e mais pessoas ao redor do mundo passaram a restringir o consumo de glúten na sua alimentação. A proteína, presente em cereais da família das gramíneas (Poaceae), como trigo, centeio e cevada, de fato é um perigo para quem sofre da chamada doença celíaca, provocando irritação no intestino que eleva os riscos de doenças cardíacas e câncer na região. Mas quem não tem problemas com o consumo de glúten na verdade pode estar fazendo mal ao próprio coração ao evitá-lo, mostra estudo publicado esta semana no periódico científico “BMJ”. Segundo os pesquisadores das universidades de Harvard e Colúmbia, EUA, isso acontece principalmente porque estas pessoas deixam de comer farinhas integrais, cuja ingestão já foi associada a um menor risco cardíaco e outras doenças, como o próprio câncer intestinal.

No estudo, os cientistas analisaram dados de dois grandes levantamentos sobre os hábitos de vida e condições físicas de mais de 172 mil profissionais de saúde americanos, homens e mulheres, realizados entre 1986 e 2012, dos quais cerca de 110 mil deles passaram dos critérios de exclusão da pesquisa. Com base nos questionários sobre alimentação que eles responderam periodicamente no período de acompanhamento dos levantamentos, os participantes foram divididos em quintos relativos ao seu consumo de glúten, isto é, em cinco grupos separados entre os que ingeriam de mais a menos da proteína. Esta informação foi então cruzada com a ocorrência de infartos, fatais ou não, em cada grupo. Os resultados apontaram que enquanto no conjunto que menos consumia glúten houve uma incidência de 352 episódios para cada 100 mil pessoas-ano, no grupo que mais ingeria a proteína ela ficou em 277 a cada 100 mil pessoas-ano.

O glúten é claramente prejudicial para as pessoas com doença celíaca, mas livros de dieta populares, baseados em evidências anedotárias e circunstanciais, promoveram a noção de que uma dieta de baixo glúten é saudável para todo mundo – critica Benjamin Lebwohl, diretor de pesquisas clínicas do Centro de Doença Celíaca da Universidade de Colúmbia e líder do estudo. – Nossos achados, porém, mostram que a restrição ao glúten não traz qualquer benefício, pelo menos do ponto de vista da saúde cardíaca, para pessoas sem doença celíaca. Na verdade, estas pessoas podem sofrer prejuízos se seguirem uma dieta de baixo glúten que seja particularmente pobre em grãos integrais, já que estes grãos parecem ter um efeito protetor contra doenças do coração.

Grãos da dieta

O glúten é uma proteína presente no amido de cereais como trigo, centeio e cevada.

Alimentos que contêm glúten:

Pão francês

Bolos

Biscoitos

Macarrão

Carnes empanadas com farinha

Sorvete

Cerveja

O que já se sabia?

Em quem tem doença celíaca, o glúten provoca inflamação intestinal e é associado a um maior risco de doenças cardiovasculares e câncer intestinal.

Em quem não tem a doença, ele quase nada afeta. Algumas pessoas, porém, podem ter uma leve intolerância ao glúten e experimentar dificuldades na digestão.

O que o novo estudo acrescenta?

Entre profissionais de saúde homens e mulheres acompanhados por mais de 25 anos, o consumo de glúten não foi associado a um aumento na incidência de doenças do coração.

Reduzir a ingestão de glúten, no entanto, levou por tabela a um menor consumo de grãos integrais, justamente aqueles que protegem o coração, o que aumentou o risco de doenças coronarianas em quem seguiu uma dieta restritiva sem necessidade.

Fonte: Universidades de Harvard e de Columbia (EUA)

A nutricionista Izabella Costa Rocha também critica o modismo em torno das dietas com restrição de glúten para quem não tem doença celíaca. Segundo ela, ao remover ou reduzir drasticamente o consumo da proteína de sua alimentação, a pessoa corre o risco de acabar desenvolvendo uma intolerância ao glúten no futuro, além de fazer substituições que podem prejudicar sua saúde, já que muitos produtos “sem glúten” têm um teor maior de gorduras, cujo consumo excessivo está ligado justamente à ocorrência de problemas cardiovasculares.

Temos que ser mais sensatos com as escolhas que fazemos para a nossa alimentação – defende. – O problema destas dietas da moda é que, se você não tiver cuidado com a qualidade dos nutrientes que ingere, pode acabar com deficiências. Nosso corpo não está adaptado a estes cortes abruptos no consumo de alguns tipos de alimentos e isso vale também para vegetarianos ou qualquer outro tipo de restrição, seja por motivos de saúde ou filosofia. Numa dieta deve-se poder comer de tudo, desde que de forma equilibrada e com orientação profissional. Neste caso do glúten, por exemplo, o ideal para uma pessoa saudável é dar preferência às farinhas integrais, ricas em fibras e minerais, que vão ajudar na redução de peso e do colesterol e na prevenção do câncer do intestino e também do diabetes.

Opinião parecida tem Cristiane Kovacs, integrante do Departamento de Nutrição da Sociedade Brasileira de Cardiologia:

A restrição ao glúten que está sendo tão propagada só é recomendada quando existe uma alergia comprovada, para pacientes que têm confirmação de doença celíaca. Já pessoas que não têm esta restrição não têm motivos para tirar o glúten de sua dieta, pois ao substituí-lo também vão restringir bastante a ingestão de fibras, o que, por sua vez, vai trazer mais problemas para sua saúde. Não é uma troca inteligente para o fim que estava sendo buscado, e assim todo objetivo de ter uma alimentação mais saudável vai por água abaixo.

Tanto Izabella quanto Cristiane também lembram que os relatos de pessoas que contam ter emagrecido depois de excluírem ou restringirem o glúten em sua dieta se devem mais a uma consequente menor ingestão calórica geral do que a simples retirada da proteína da alimentação.

O problema é que estas pessoas costumavam ter uma dieta muito ruim, com alimentos ricos em açúcar, gorduradas saturadas e sódio que causam uma sobrecarga intestinal e se queixam de uma desconforto que não está necessariamente ligado diretamente o glúten ou à lactose – ressalta Cristiane. – Assim, a melhora que sentem vem não de retirar o glúten de sua dieta, mas de restringir o consumo de toda uma gama de alimentos calóricos paralelos como sanduíches, pizzas, massas etc. E quando se reduz o consumo calórico é claro que a pessoa vai emagrecer.

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