(Português) A Fórmula do Fascismo

ORIGINAL LANGUAGES, 10 Dec 2018

Paulo Correia | Ideia Perigosa – TRANSCEND Media Service

18 Nov 2018 – µ – φ = fascismo : A fórmula fundamental do grande capital, aplicada à política de França, a terra da tomada da Bastilha, da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão e da divisa « Liberté  Égalité  Fraternité ».

Micron (µ) foi eleito com o slogan « nem de esquerda, nem de direita ». Viu-se no que deu. Hoje, ele e o seu governo são designados pelo Povo como sendo « nem de esquerda, nem de esquerda ». Um tipo que, no dia da tomada de posse presidencial, desfilou de pé, em cima de um  jeep militar e que mal chegado ao « Palácio do Eliseu…dá cá o meu », suprimiu o imposto sobre os rendimentos das grandes fortunas, destruiu a lei laboral, colocou os reformados a contribuir mais, aumentando a taxa de solidariedade e cortou nas ajudas às rendas de casa incluindo na dos estudantes.

Até a frase que o deixou célebre « Make our Planet great again », em contra-ponto com os delírios nacionalistas de Trump, soa agora completamente oca, com um aumento das emissões de CO2 em França, na ordem dos 3,2%, durante o seu primeiro ano de mandato. Para mais, o seu mítico e independente ministro do Ambiente – Nicolas Hulot – apresentou a sua demissão em Setembro, argumentando que o ambiente nunca seria uma prioridade deste governo. A sua ministra do Trabalho – a Sra. Penico (Muriel Pénicaud) havia ganho cerca de 1,13 milhões de Euros em mais valias de acções, quando ela, como directora de recursos humanos da « Danone », apresentou um plano maciço de despedimentos – 900 quadros superiores em 26 países europeus.

O actual Primeiro-ministro, Édouard Philippe, era presidente da Câmara Municipal do Havre, do partido da direita conservadora – « Os Republicanos » (LR) – e foi um dos directores na mega-empresa de energia nuclear « Areva », não se entrevendo assim, o fecho das centrais nucleares, mantendo-se viva a hipótese de um acidente nuclear do tipo « Fukushima »…lá se vai o nosso rico vinho de Bordéus – « O João, mais uma vítima nuclear… » (canção, clicar aqui).

A grande maioria de ministros e deputados « Em Marcha » – o movimento político « vindo do nada », que levou Júpiter, como µ se auto-intitulou – vêm do sector empresarial – MEDEF, o equivalente da CIP – embora µ tenha afirmado, que o seu movimento era constituído maioritariamente por membros da « sociedade civil »…pois, pois. Para coroar a sua saída em carro de combate, assistimos há cerca de um mês, a uma série de perquisições policiais, que tomaram a forma de rusgas, tal foi a desproporcionalidade de meios utilizados, contra o único partido de esquerda com força popular – A França Insubmissa (FI – φ, letra grega, que é o símbolo do movimento político) de Jean-Luc Mélenchon. Não estão em causa as perquisições, feitas no âmbito de duas investigações judiciárias preliminares, sobre as contas da última campanha presidencial – já validadas pela « Comissão Eleitoral » ! – e sobre o trabalho efectivo (ou não) dos assistentes de deputados europeus.

O facto é que, as rusgas a que assistimos, seriam sem dúvida adequadas à luta contra o terrorismo ou ao grande banditismo, nunca a um movimento político ! O resultado da cobertura mediática destes acontecimentos, degradou a imagem do movimento, sendo que o « timing » escolhido para esta acção policial, a poucos dias da apresentação das listas às eleições europeias, conforta a tese de perseguição política.

No preciso momento em que escrevo estas linhas, há 282 000 pessoas a bloquear as estradas gaulesas, movidas por um movimento popular de revolta, contra a subida do preço dos combustíveis, denominado « coletes amarelos ». A extrema-direita está a tentar infiltrar-se e a apropriar-se desta revolta, tal como aconteceu com os bolsonaristas na greve dos camionistas – caminhoneiros – brasileiros, em Maio. Que estranho mundo este, onde as fórmulas de acção fascistas parecem iguais em todo lado, independetemente da cultura, do país ou do continente em que acontecem. Obrigado globalização, obrigado Facebook, Twitter e WhatsApp. Obrigado ignaros.

Apresento aqui em anexo, uma amostra de « bocas » que o nosso µ tem mandado neste seu primeiro ano de mandato presidencial. Verdadeiros insultos, denotando um menosprezo de classe abissal :

« Numa estação de comboio, cruzamo-nos com pessoas de sucesso e com pessoas que não são nada »

« Damos montes de dinheiro aos pobres e mesmo assim eles não se safam »

« Não cederei nada aos preguiçosos, aos cínicos e aos egoístas » (estaria a falar dele ou dos seus amigos?)

A propósito de uma manifestação em frente a uma fábrica que ia fechar – « Alguns, em vez de armar confusão, deviam ir tentar arranjar emprego, pois até têm habilitações para isso »

« Basta atravessar a rua para arranjares trabalho », disse ele a um jovem horticultor sem terra e sem trabalho.

« Não sou mais do que uma emanação do gosto do Povo francês pelo romanesco »

« Sou o fruto de uma certa brutalidade da História, de um assalto »

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Paulo Correia – Compositor de canções e músico. Colabora como cronista e tradutor na redação do site de Informação alternativo belga Investig’Action. Publica também no site alternativo francês Le Grand Soir. Blogger no site Ideia Perigosa. Reside no sudoeste francês, na região de Bordéus – Nouvelle Aquitaine. Licenciado em Geologia pela Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, pós-graduado com Mestrado/MSc em Géosystèmes pela Faculté des Sciences de l’Université d’Orléans, França. Foi Bolseiro de Investigação Científica no grupo de estudos marinhos e ambientais na Universidade do Algarve e Geólogo petrolífero em plataformas offshore no Mar do Norte e Angola.

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