(Português) O Silêncio de Deus e a Morte dos Inocentes: Deus Por Que Te Calas?

ORIGINAL LANGUAGES, 15 Apr 2024

Leonardo Boff – TRANSCEND Media Service

10 abril 2024 – Vivemos globalmente num mundo trágico, cheio de incertezas, de ameaças e de perguntas para as quais não temos respostas que nos satisfaçam. Ninguém nos poderá dizer para onde estamos indo: para o prolongamento do atual modo de habitar a Terra, devastando-a em nome de um maior enriquecimento de poucos. Ou mudaremos de rumo?

No primeiro caso, seguramente a Terra não aguentará a voracidade dos consumistas (já agora precisamos de uma Terra e meia para atender o nível atual de consumo dos países ricos) e nos confrontaremos com crises e mais crise, como  o Corona-virus e o aquecimento global já irrefreável (lançamos na atmosfera por ano 40 bilhões de toneladas de gazes de efeito estufa). Poderemos não ter mais retorno e iremos ao encontro do pior.

Ou, forçados pela situação, recuperaremos a razão sensível e sensata, pois agora está enlouquecida, definimos um novo rumo mais amigável para com a natureza e a Terra, mais justo e participativo de todos os humanos.Trabalharemos a partir do território, desenhado pela natureza, pois ai podera ser sustentável e criar uma verdadeira participação de todos. Então começará um novo tipo de história com um futuro para o sistema-vida e  o sistema- Terra.

Teremos tempo, coragem e sabedoria para esta conversão ecológica? O ser humano é flexivel, tem mudado muito e se adaptado aos vários climas. Ademais a história não é linear.  De repente surge o inesperado e o impensável (um salto para cima em nossa consciência) que inaugurariam um novo rumo para a história.

Enquanto esperamos, sofremos pelos males que estão ocorrendo na Terra: há 17 lugares de guerra. O Papa Francisco falou muitas vezes que estamos já na terceira guerra mundial aos pedaços.  Não é impossíve que irrompa um conflito nuclear inteiro e leve a perder toda a humandade.

Neste contexto nos colocamos no lugar de Jó e clamamos a Deus no meio de tantas mortes de inocentes, de genocídios e de guerras altamente letais.

“Deus, onde estavas naqueles momentos aterradores em que a fúria genocida de Netanyahu dizimou 13 mil crianças inocentes e mais de 80 mil  pessoas e mães na Faixa de Gaza? Por que não intervieste, se podias faze-lo? Mais de 500 mil casas, hospitais escolas,  universidades, mesquistas e igrejas foram arrasadas. Por que não detiveste aquele abraço assassino? Teu Filho bem-amado, Jesus, saciou cerca de 5 mil pessoas famintas. Por que permites que centenas e centenas morram de sede e de fome?

Onde está a tua piedade? Estas vitimas não são também teus filhos e filhas, especialmente queridos, porque representam teu Filho crucificado.

Recordo com dor as palavras do Papa Bento XVI quando visitou  o campo de extermínio de judeus em Auschwitz-Birkenau:

”Quantas perguntas surgem neste lugar. Onde estava Deus naqueles dias? Por que Ele silenciou? Como pôde tolerar esse excesso de destruição,  este triunfo do mal?

Jó tinha razão em reconhecer que”Deus é grande demais para que possamos conhece-lo”(Jó 36,26). Ele pode ser e fazer aquilo que não entendemos, pois somos limitados. Não obstante teimosamnte Jó professa sua fé, dizendo a Deus:”Mesmo que me mates, ainda assim creio em ti”(Jo 15,13)? Inesquecível é o testemunho do judeu antes de ser exterminado no Gueto de Varsóvia em 1943. Deixou escrito num papelzinho posto dentro de uma garrafa: “Creio no Deus de Israel, mesmo que Ele tenha feito tudo para que não creia nEle. Escondeu seu rosto…Se, um dia, alguém a encontrar esse papelzinho e o lerá, vai entender, talvez, o sentimento de um judeu  que morreu abandonado por Deus, esse Deus em quem continuo a crer firmemente”.

Não  pretendemos ser juízes de Deus. Mas podemos como  o Filho do Homem no Jardim das Oliveiras e no alto da cruz. Jesus, quase desesperado, clamou: “Meu Deus meu Deus, por que me abandonaste (Marcos 15,34)?

Nossos lamentos não são blasfêmias, mas um grito doloroso e insistente a Deus: “Desperta! Não tolere mais o sofrimento, o desespero e o genocídio de inocentes. Acorda,  vem libertar aqueles que criaste no amor. Acorda e venha, Senhor, para salvar-los.

No meio desta melancolia, nosssa esperança prevalece, porque pela ressurreição de um irmão nosso, Jesus de Nazaré,se antecipou nosso fim bom. É isso que nos confere algum sentido e de não desesperar face à dramática situação em que se encontra a Terra e a humanidade.

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Leonardo Boff é um escritor, teólogo e filósofo brasileiro, professor emérito de ética e filosofia da religião da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, recebedor do Prêmio Nobel Alternativo da Paz do Parlamento sueco [Right Livelihood Award]em 2001, membro da Iniciativa Internacional da Carta da Terra, e professor visitante em várias universidades estrangeiras como Basel, Heidelberg, Harvard, Lisboa e Salamanca. Expoente da Teologia da Libertação no Brasil, foi membro da Ordem dos Frades Menores, mais conhecidos como Franciscanos. É respeitado pela sua história de defesa pelas causas sociais e atualmente debate também questões ambientais. Colunista do Jornal do Brasil, escreveu os livros Francisco de Assis: Ternura e Vigor, Vozes 2000;  A Terra na palma da mão: uma nova visão do planeta e da humanidade,Vozes 2016;  Cuidar da Terra – proteger a vida: como escapar do fim do mundo, Record 2010;  A hospitalidade: Direito e dever de todos, Vozes 2005; Paixão de Cristo, Paixão do Mundo, Vozes 2001; Brasil: Concluir a refundação ou prolongar a dependência, Vozes 2018; “Destino e Desatino da Globalização” em: Do iceberg à Arca de Noé, Mar de Ideias, Rio 2010 pp. 41-63.

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