(Português) A Fé como Caminho para a Paz–Como o Amor a Deus Nos Conduz à Paz

ORIGINAL LANGUAGES, 23 Dec 2024

Rui Silva – TRANSCEND Media Service

18 dez 2024 – Todos queremos paz no mundo, e todos queremos paz e felicidade em termos individuais, não é? O problema é que as pessoas não sabem como alcançar a paz, seja em termos colectivos ou individuais.

O grande problema na filosofia de todos os que advogam e querem a paz foi uma vez expresso pelo Arcebispo da Cantuária quando disse: “Vocês querem o reino de Deus, mas sem Deus”. Sim, porque a verdadeira paz e felicidade, aliás paz e felicidade eternas e não apenas temporárias, só existem no Reino de Deus. Se queremos a paz, temos de entender que paz significa viver com Deus.

É isto que se afirma no Bhagavad Gita, a escritura mais antiga da Humanidade — aliás celebrámos na 4ª feira o dia em que o Senhor Supremo falou o Bhagavad Gita ao Seu amigo e discípulo Arjuna há mais de 5 mil anos. A menos que a nossa vida seja moldada para estarmos em permanente contacto com o Senhor Supremo, Krishna, não poderemos ter paz, pois é esta a verdadeira chave ou fórmula da paz. A verdadeira fórmula da paz é que temos de saber que Deus é o proprietário de tudo o que existe, o beneficiário de todos os sacrifícios e atividades, e o verdadeiro amigo de todos.

É isto que o Senhor afirma no Bhagavad Gita. Podemos até ler o verso concreto onde Krishna faz esta afirmação (BG 5.29):

bhoktāraṁ yajña-tapasāṁ
sarva-loka-maheśvaram
suhṛdaṁ sarva-bhūtānāṁ
jñātvā māṁ śāntim ṛcchati

Primeiro, temos de perceber que Ele é o proprietário de tudo o que existe. Nada nos pertence, tudo pertence a Deus! E é por acharmos que isto me pertence a mim, que esta terra é minha, que estes bens são meus, que isto ou aquilo é meu, é por isso que existem guerras, desentendimentos e conflitos. Marcamos uma fronteira, espetamos uma bandeira e dizemos “este é o meu país”, e o outro ao lado faz o mesmo e diz “este é o meu país”. Depois, porque a ganância não tem limites, queremos sempre mais e mais, e queremos conquistar o que pertence ao outro, ou queremos ter o que é dos outros, ou ter mais que os outros. A ganância não tem limites! Ou como disse uma vez o Mahatma Gandhi, “O mundo tem o suficiente para satisfazer as necessidades de todos, mas não o suficiente para lhes satisfazer a ganância”.

O facto é que nada nos pertence. Estamos apenas de passagem por esta Terra como visitantes temporários que aqui chegaram há uns dias sem trazerem nada, e que em breve irão partir sem nada levarem consigo. Devemos parar para pensar e tomar consciência de que quando chegar a Ordem Suprema, teremos de deixar esta casa que achamos que é nossa, este corpo que achamos que somos nós, todas as propriedades que achamos que possuímos, a família à qual achamos que pertencemos, o dinheiro que pensamos que temos, o saldo bancário, as acções ou PPRs que tenhamos, tudo! Teremos de deixar cá tudo! E os cargos que ocupamos irão ficar totalmente vagos logo que a natureza nos chame, naquilo a que chamamos o momento da morte.

E porque tudo pertence a Deus, tudo aquilo que fazemos deve ser executado para o Seu prazer. Ele deve ser o único beneficiário de tudo o que fazemos. Tal como quando trabalhamos para um patrão, que é o dono de todos os bens e de toda a propriedade com que trabalhamos ao seu serviço — tudo aquilo que fazemos, em última instância, é para o seu benefício. Um caixa no Banco pode contar milhares de euros por dia, que lhe são entregues ao balcão, mas ele não fica nem com um cêntimo de todo esse dinheiro, porque sabe que esse dinheiro não lhe pertence. Se soubermos que tudo pertence a Deus e que deve ser usado para o Seu prazer, não iremos cobiçar nem um cêntimo que nos passe pelas mãos, tal como o caixa do Banco. E portanto deve ser o Senhor o beneficiário de todas as nossas actividades, sejam elas políticas, sociais, culturais, religiosas, económicas, tudo deve ser feito como uma oferenda ao Senhor e para o Seu prazer.

E Deus é o nosso verdadeiro Amigo. Todos queremos alguém em quem confiar plenamente e que esteja sempre ao nosso lado quando precisamos. Alguém que nunca nos falhe, que nunca nos falte, que nunca nos desiluda. Esse amigo é Krishna, Deus! E se fizermos amizade com Ele, iremos descobrir que todos são nossos amigos. Deus está situado no coração de todos, e se fizermos amizade com Ele, Ele irá ditar a partir de dentro para que sejamos tratados de forma amistosa por todos. Se fizermos amizade com Deus, todos serão nossos amigos. É esta a beleza de vivermos realmente para Deus e com Deus, pela Sua graça e intervenção, tudo se harmoniza à nossa volta.

Se todos entenderem que Deus é o proprietário supremo, que todos os nossos actos, pensamentos e palavras devem ser uma oferenda ao Senhor, e que Ele é o verdadeiro amigo de todos, haverá realmente paz no mundo, e cada pessoa individualmente terá paz e será realmente feliz.

Reparem, Deus é o nosso verdadeiro Pai. Ele também afirma no Bhagavad Gita, que em relação a todas as entidades vivas Ele é o Pai que dá a semente. A natureza material é a mãe, que cria o corpo e alimenta todas as entidades vivas, e Deus é o Pai que dá a vida a cada ser. E como Pai, Ele quer apenas o bem e a felicidade dos Seus filhos. Não é assim? Não é essa a preocupação de um pai? Que os seus filhos estejam bem, que nada lhes falte e que sejam felizes? Podemos também ler este verso concreto do Bhagavad Gita (BG 14.4):

sarva-yoniṣu kaunteya
mūrtayaḥ sambhavanti yāḥ
tāsāṁ brahma mahad yonir
ahaṁ bīja-pradaḥ pitā

Portanto, só precisamos de entender estas simples verdades e de as aplicar nas nossas vidas para termos paz e sermos felizes enquanto cá andamos, e para depois voltarmos para junto de Deus no final desta vida, e vivermos com Ele eternamente em plena bem-aventurança e cheios de conhecimento.

É isto o que afirmam as escrituras Védicas!

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Rui Silva estudou economia e trabalhou como economista na TAP até se retirar da vida material para seguir uma carreira como monge vaishnava no Movimento Hare Krishna, há 30 anos. É o presidente do Templo de Krishna na cidade do Porto-Portugal, casado e pai de dois filhos. Profissionalmente trabalha também como tradutor e intérprete de conferências, e é activista pelos direitos dos animais e dos humanos.


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