(Português) Todos p’ra Rotunda

ORIGINAL LANGUAGES, 17 Dec 2018

Paulo Correia | Ideia Perigosa – TRANSCEND Media Service

9 dez 2018 – Povos da Europa, ergam-se e ajudem-nos!

Os coletes amarelos, para além de serem feios, o seu porte, excepto em situações de urgência rodoviária ou em obras e estaleiros, é ilegal. Mas existe de facto, uma urgência social em França, na Europa e no Mundo, o que os torna pelo menos legítimos e para alguns, legais! O movimento francês dos « Gilets Jaunes », está a tentar ser descrito pelos meios de comunicação, controlados pelo poder neo-liberal, como um movimento social desordenado, sem voz clara, animado por um bando de extremistas. Mas o que realmente acontece é que, este movimento não é social, mas sim de insurreição. Os média ficaram confusos com o fenómeno e já não sabem como tratar o assunto.

Coletes Amarelos, Paris dez 2018

O poder, que « faz ouvidos de marcador » quanto às reivindicações populares, decidiu numa primeira fase, congelar o aumento da taxa sobre os combustíveis durante seis meses, o que o movimento – com opinião favorável de 70 a 80% da população – tomou como uma ofensa…« estão-nos a chamar imbecis, ou quê? ». O governo, tal como os órgãos de comunicação social, ficou desorientado e veio « a posteriori » anular definitivamente o aumento da taxa… « too late ». O movimento assume agora, que a situação não se resolverá com este Presidente da República, o Micron (µ) – que desapareceu com a sua Bribri, na imensidão do seu palácio doirado e recentemente renovado – e pede que se demita!

Os « Coletes Amarelos » querem aumentos salariais dignos e se é para pagar taxas e impostos, exigem em contrapartida, serviços públicos decentes e que funcionem – como sempre funcionaram desde 1968, mas que têm vindo a degradar-se ultimamente com as políticas de austeridade e ultra-liberais. Querem também a reposição integral do imposto sobre as grandes fortunas – sim, os ricos e ultra-ricos devem ser solidários para com a sociedade que integram, que lhes deu e dá Educação e Saúde gratuítas, mão de obra culta, altamente especializada, Segurança, Justiça, estradas, vias férreas, portos, aeroportos e não tentar ludibriar o fisco, fugindo com os seus rendimentos para as Ilhas « Cai Mão »! O valor da sobretaxa que ia ser aplicado aos combustíveis é, « mais coisa, menos coisa », igual ao valor correspondente à recém-decretada diminuição do imposto aplicado aos mais desafogados economicamente! É sobretudo daí que advém, o profundo sentimento de injustiça que paira no ar e que deu lugar à revolta.

Sinal do medo e da desorientação governamental, é a mobilização de 89 mil polícias (!) neste sábado, 8 de Dezembro, no 4° acto da « revolta sabatina ». Muita gente, com receio da repressão policial, ficou em casa, deixando o movimento abandonado aos mais revoltados e aos extremistas. O objectivo desta demonstração de força, por parte do governo, é desmobilizar as gentes que acreditavam que, com manifestações pacíficas de confraternização (não me parece que a SIC tenha mostrado muitas destas imagens) de bloqueio de rotundas (churrascos de carnes, sumos, cervejas e convivência inter-geracional de jovens, reformados/as, activos/as e privados/as de emprego) iriam conseguir ser ouvidas a sério.

Em vez disso, os representantes eleitos despejam anúncios vagos e medidas do género « toma lá esta migalha, vai para casa e cala-te » e os canais de informação bombardeiam a opinião pública, com imagens localizadas de violência – « autorizada » pelas forças policiais – no Arco do Triunfo – um monumento erigido à « glória » do militarismo imperial napoleónico francês (aí figuram esculpidas no calcário proveniente do Vale de Loing, Almeida, Porto e muitas outras batalhas e cidades europeias atacadas, devastadas e pilhadas pelo « Imperador », que tinha já confiscado a Revolução popular de 1789).

Os Microns (µ) e Centenos (%) desta Europa financeira e especulativa, devem ceder o lugar às aspirações populares de uma vida digna e onde sonhar com uma vida saudável, sem pesticidas, glifosatos e outros venenos, em paz e harmonia com as suas famílias, seja a norma e não esta selva, que espreme os trabalhadores/as até ao tutano, enquanto uma horda de desempregados/as, aspira pelo seu lugar. É o/a trabalhador/a, que cederá, nos seus limites físicos e/ou mentais, à pressão, queimado/a pelos ritmos impostos pela maioria dos patrões ávidos de fortuna e que sonham com os campos de golf do Trump.

Ah, é verdade, o Donald já « twittou » sobre os acontecimentos franceses, afirmando com satisfação, que os Gauleses não são favoráveis a pagar mais caro os combustíveis, a fim de ajudar o ambiente e respeitar os acordos climáticos de Paris. Não Sr.Trump, os Franceses a quem é pedido, num género mesquinho de chantagem, o pagamento da factura « para salvar o planeta », são principalmente os mais pobres, que vivem em zonas isoladas do campo e que não têm alternativa, nem recursos para comprar uma viatura que polua menos. Eles até estariam dispostos a contribuir e ajudar a « melhorar a saúde  do planeta », se vivessem melhor, num país justo, onde toda a gente contribui proporcionalmente em função dos seus rendimentos. É este o perigo da revolta, quando os apoios da extrema direita de Trump, Bolsonaro e Le Pen – com Steve Bannon e as redes sociais como denominador comum – ousam falar de legitimidade na revolta.

Povo Português, estivadores/as, guardas prisionais, enfermeiros/as, técnicos/as de saúde, professores/as, empregados/as do privado (sei que se manifestas és despedido, por isso, se não trabalhas no sábado, telefona aos colegas e amigos/as para se encontrarem na rotunda mais próxima), desempregado/as, reformados/as, roubados/as pelo BES, BANIF e outros, pequenos/as proprietários/as agrícolas e florestais, camionistas, bombeiros/as, Cidadã/o : « vamos lá assar umas febras, beber umas minis e uns sumos, confraternizando nas rotundas, no próximo sábado, vestindo o « Colete Amarelo » da indignação, contra a humilhação da exploração laboral, do inferno dos hospitais públicos e dos incêndios florestais. O modelo económico baseado na plantação e exploração do eucalipto está errado! As indústrias da pasta de papel e das celuloses estão a matar os nossos rios! Plantemos outras espécies de árvores!

É urgente uma verdadeira reforma cadastral das propriedades, séria e rigorosa. O eucalipto suga os lençóis de água subterrâneos, empobrece os solos e com o seu grande potencial combustível, patrocina os incêndios de Verão e contribui para o desaparecimento do nosso Portugal Interior, desertificando aldeias e alterando o clima. O deserto do Sara está a avançar! Se não agirmos prontamente, a geração dos nossos netos fará parte dos movimentos de refugiados climáticos, como os Povos actuais de África, que tentam fugir à seca, às guerras e miséria, semeadas pelas potências ocidentais, na pilhagem de recursos minerais e petrolíferos.

Europeus, vamos dizer bem alto, que não queremos uma Comissão Europeia não eleita pelo Povo, a controlar os nossos destinos e a sugar os recursos, fruto do nosso trabalho, para os dar ao FMI, aos banqueiros e aos especuladores financeiros. O que é que o Presidente do Conselho Europeu, o polaco Donald (mais um?) Tusk está a fazer na União Europeia? Ele foi um acérrimo defensor da NATO/OTAN, a organização militar que está a preparar uma guerra contra a Rússia. Micron e Merkel falam num exército europeu. Porque é que não falam da harmonização salarial e fiscal e da cooperação solidária entre Povos? Lutemos pelos nossos direitos, por uma vida digna e contra as guerras, pois caso contrário seremos obrigados a combater numa, sabe-se lá porquê! Gilets Jaunes, Coletes Amarelos, Yellow Vests, Chalecos Amarillos – Todos p’ra rotunda!

______________________________________________

Paulo Correia – Compositor de canções e músico. Colabora como cronista e tradutor na redação do site de Informação alternativo belga Investig’Action. Publica também no site alternativo francês Le Grand Soir. Blogger no site Ideia Perigosa. Reside no sudoeste francês, na região de Bordéus – Nouvelle Aquitaine. Licenciado em Geologia pela Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, pós-graduado com Mestrado/MSc em Géosystèmes pela Faculté des Sciences de l’Université d’Orléans, França. Foi Bolseiro de Investigação Científica no grupo de estudos marinhos e ambientais na Universidade do Algarve e Geólogo petrolífero em plataformas offshore no Mar do Norte e Angola.

Go to Original – ideiaperigosa.wordpress.com

Share this article:


DISCLAIMER: The statements, views and opinions expressed in pieces republished here are solely those of the authors and do not necessarily represent those of TMS. In accordance with title 17 U.S.C. section 107, this material is distributed without profit to those who have expressed a prior interest in receiving the included information for research and educational purposes. TMS has no affiliation whatsoever with the originator of this article nor is TMS endorsed or sponsored by the originator. “GO TO ORIGINAL” links are provided as a convenience to our readers and allow for verification of authenticity. However, as originating pages are often updated by their originating host sites, the versions posted may not match the versions our readers view when clicking the “GO TO ORIGINAL” links. This site contains copyrighted material the use of which has not always been specifically authorized by the copyright owner. We are making such material available in our efforts to advance understanding of environmental, political, human rights, economic, democracy, scientific, and social justice issues, etc. We believe this constitutes a ‘fair use’ of any such copyrighted material as provided for in section 107 of the US Copyright Law. In accordance with Title 17 U.S.C. Section 107, the material on this site is distributed without profit to those who have expressed a prior interest in receiving the included information for research and educational purposes. For more information go to: http://www.law.cornell.edu/uscode/17/107.shtml. If you wish to use copyrighted material from this site for purposes of your own that go beyond ‘fair use’, you must obtain permission from the copyright owner.

Comments are closed.