(Português) Brasil: A luta dos animais pela sobrevivência na catástrofe de Brumadinho
ORIGINAL LANGUAGES, 4 Feb 2019
David Arioch | Vegazeta – TRANSCEND Media Service
Eles também partilham da senciência, da capacidade de sentir dor, e de um nível de consciência.
27 jan 2019 – Todo mundo ou quase todo mundo reconhece a luta humana pela sobrevivência, até porque não é nenhuma novidade que fazemos o que podemos para não morrer diante de situações que fogem ao nosso controle – como por exemplo, um desastre, uma tragédia ou um crime ambiental. Mas normalmente pouco se fala sobre o esforço não humano.
Uma prova disso é que após o rompimento da barragem da Vale no Córrego do Feijão, em Brumadinho, Minas Gerias, na sexta-feira, começamos a contabilizar o número de vítimas humanas, mas resistimos a falar das vítimas não humanas, com algumas exceções. Pode parecer que não, mas quando determinadas vítimas são pouco consideradas, como se não fossem tão relevantes, o causador de um crime ambiental tende a se isentar de responsabilidade. Afinal, a reação se baseia na repercussão.
E se dissermos que o mais importante é salvar apenas as pessoas, mas nem tanto ou “talvez os animais se der”, estamos dando o nosso aval para o abandono de vidas não humanas. Mas seria sensato ou justo fazer isso? Além do que sabemos, fotos e vídeos do crime ambiental em Brumadinho deixam claro que não. Macacos enlameados sobre casas aguardando ajuda, bovinos atolados, desviando de galhos e pedaços de pau arrastados pela correnteza – fazendo o possível para manterem a cabeça fora da lama na esperança de um socorro.
Não são apenas cães e gatos que lutam para não morrer sob o denso lamaçal. Também há registros de galinhas se refugiando sobre as árvores, cavalos bufando (com medo) e porcos grunhindo com o dorso coberto de lama. Embora sejam diferentes de nós em inúmeros aspectos, partilham da senciência, da capacidade de sentir dor, de um nível de consciência e são seres sociais. Assim como nós, fazem o possível para evitarem o sofrimento e a morte.
Imagens e vídeos de pontos do Rio Paraopeba mostram o impacto da tragédia para os peixes, que se esforçam para não amargar uma morte dolorosa por asfixia, se debatendo até desfalecerem sob ou sobre a lama de rejeitos. Como podemos dizer que peixes não sentem nada? Que qualquer um desses animais não sente nada?
Será que saberemos quantos animais morreram ou foram atingidos pelo rompimento da barragem em Brumadinho? Acho pouco provável, porque na nossa sociedade, vidas não humanas valem pouco, ainda que somem centenas, milhares ou mesmo milhões. Talvez seja um momento oportuno para refletir sobre o fato de que muitos desses animais enlameados, e lutando pela vida, com quem as pessoas se sensibilizam hoje em Brumadinho, são iguais aqueles que estão em pedaços em seus pratos. E se decidíssemos poupá-los diariamente? Afinal, há justiça em salvar alguém hoje para matá-lo amanhã?
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David Arioch é jornalista profissional, historiador e especialista em jornalismo cultural, histórico e literário.
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