(PORTUGUESE) AN?LISE: CRESCIMENTO DA CHINA ? CRUCIAL PARA AM?RICA LATINA SUPERAR CRISE

COMMENTARY ARCHIVES, 21 Oct 2008

James Painter

Analista da BBC para a América Latina

As economias da América Latina se encontram em uma posição mais forte para enfrentar a crise financeira global do que estavam no passado.

A maioria dos países tem superávit comercial, grandes reservas monetárias e um nível saudável de déficit fiscal.

Mas a combinação de uma desaceleração global com a queda dos preços das matérias-primas ameaça reverter a recente tendência de crescimento.

O Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional já mudaram suas perspectivas de crescimento para a região em 2009.

Existe o temor de que os governos tenham que cortar seus gastos em saúde, educação e planos de erradicação da pobreza.

A dúvida é se a China poderia diminuir estes efeitos.

Nos últimos dez anos muitos países, principalmente na América do Sul, diversificaram seus sócios comerciais e incluíram o gigante asiático.

Em 2000, o comércio entre a América Latina e a China alcançava os US$ 13 bilhões. Em 2007, esta soma chegou aos 103 bilhões.

Soja

A economia chinesa cresceu 13% em 2007 e, para acompanhar este crescimento, o país está importando matérias-primas como soja e ferro do Brasil, soja e oleaginosas da Argentina, cobre do Chile, estanho da Bolívia e petróleo da Venezuela.

Atualmente, a China é o segundo maior parceiro comercial do Brasil, perdendo apenas para os Estados Unidos; o terceiro da Argentina; segundo do Peru e o principal mercado de exportação para o Chile.

Se a economia chinesa continuar crescendo, poderia sem dúvida ajudar a manter o crescimento das economias da América Latina.

Mas a dúvida é se o crescimento chinês é sustentável e se o país pode continuar absorvendo as commodities da região.

O comércio é responsável por 70% da economia chinesa, principalmente a venda de produtos manufaturados baratos para os Estados Unidos e Europa.

Mas se a demanda nestas regiões cair, muito provavelmente a produção chinesa será afetada e o superávit comercial do país também.

E já existem sinais de desaceleração: as exportações para os Estados Unidos caíram cerca de 20%. Há informações de que os produtores de aço diminuíram a produção em 20% e que milhões de toneladas de ferro estão encalhadas em portos chineses.

Opiniões diferentes

Existem opiniões diferentes sobre até que ponto a economia chinesa perderá força.

"Segundo o governo chinês, a economia não vai cair mais além dos 8%", disse David Roche, fundador da consultoria Independent Strategy, de Hong Kong.

"Mas já está a caminho dos 4%, ainda que (o governo) nunca não diga isto."

Outros analistas afirmam que a queda será muito menor e levará a um crescimento de entre 8% e 9%.

O que interessa aos países da América Latina é descobrir quais os setores da economia da China que continuarão crescendo e a que ritmo.

A demanda por ferro já é vista como instável e a de cobre depende de com qual velocidade a China quer avançar com a expansão da eletricidade a todo o país.

Vulneráveis

Argentina e Paraguai são particularmente vulneráveis a uma queda na demanda chinesa por soja.

Desde julho, os preços do produto vêm caindo. E muitos analistas garantem que a notável recuperação da economia argentina desde 2001 se deve, em grande parte, às exportações de soja, principalmente para a China.

O Chile, por sua vez, seria afetado por uma queda na demanda de cobre. O minério teve um aumento de 700% entre 2001 e meados de 2008, mas agora o preço está caindo.

Porém, diferentemente de outros países da América Latina, o Chile conta com uma ampla reserva, de cerca de US$ 20 bilhões, poupada quando o preço do cobre estava aumentando.

No caso da Venezuela e do Equador a demanda chinesa fará pouco para compensar as quedas nos preços do petróleo que estão afetando estes países.

Apesar de toda a publicidade dos acordos entre o presidente venezuelano Hugo Chávez e o governo chinês, a Venezuela exporta apenas 250 mil barris de petróleo por dia ao país asiático, enquanto envia 1,5 milhão de barris para os Estados Unidos diariamente. O total de exportações da Venezuela para a China em 2007 foi de apenas US$ 3 bilhões.

Matéria prima

No geral, os preços das matérias-primas são provavelmente os maiores fatores determinantes do crescimento econômico de médio prazo na América Latina.

Segundo o Banco Mundial, cerca de metade do crescimento da região nos últimos cinco anos foi estimulado pelos altos preços das commodities.

O papel da China é crucial. A economia chinesa é, provavelmente, o maior fator para decidir se a atual queda no preço da maioria das matérias-primas é apenas um evento passageiro ou uma tendência de longo prazo.

E a crise também pode ter um aspecto positivo. Alguns analistas acreditam que a China poderia aumentar seus investimentos na América Latina.

Até o momento, os investimentos chineses na região não chegaram perto dos US$ 100 bilhões que o presidente Hu Jintao prometeu em 2004. Em 2007, estes investimentos foram de US$ 22 bilhões, comparados com os US$ 350 bilhões que companhias americanas investem na região.

Os analistas da consultoria Oxford Analytica prevêem que este nível de investimento chinês pode aumentar em um momento em que a China tenta garantir seu estoque de matéria-prima.

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