(Portuguese) Dez Teses Sobre Dez Anos Perdidos
ORIGINAL LANGUAGES, 26 Sep 2011
Johan Galtung, 12 Set 11 - TRANSCEND Media Service
Tese 1: A violência atroz contra o World Trade Center em Nova York e contra o Pentágono em Washington DC não comunicaram. O próprio 11/9 forneceu a tonica para a década: violência como ferramenta política não funciona, sai pela culatra. Existiam queixas por parte de alguns árabes-muçulmanos (tese 5). Manifestações pacíficas de mulheres muçulmanas vestidas de negro às portas de relevantes embaixadas dos EUA (podem haver muitas), exigindo diálogo, definindo os temas, contactando a mídia, teriam comunicado infinitamente melhor. O que houve foi uma decisão unida não contra o governo dos EUA pelos seus erros, mas contra os atacantes. É claro que os EUA mantiveram em segredo a carta dos atacantes.
Tese 2: Explicações em termos de “mal” e “terrorismo” bloqueiam o entendimento, tornando a “guerra ao terrorismo” contraproducente. A análise imediata dos EUA foi em termos de Bons (nós) vs. Maus (eles); usando a palavra “terrorismo” – agentes do mal tendo o terror como projeto, e com os quais é impossível dialogar. “O 11/9 não tem nada a ver com algo que tenhamos feito no passado” foi um tema básico, exceto por uma débil alusão a uma “reacão adversa”, registrada em alguns lugares. Esta não-análise é altamente não-inteligente, já que não se pode entender um evento desta magnitude em termos de capacidade, sem se compreender a intenção – uma análise de segurança elementar. Tal carência de inteligência na reacção dos EUA dão origem às teses 9 e 10. E a guerra ao terror produz mais terroristas do que os que incapacita.
Tese 3: A invasão do Afeganistão em 7 de outubro de 2001 usou o 11/9 como pretexto, foi baseeada em mentiras, e é contraproducente. Nenhuma prova foi jamais apresentada de que o 11/9 foi engendrado no Afeganistão (como acontece às violências na Chechénia e na Caxemira), nem que Bin Laden tenha sido o organizador (embora tenha sido um comentarista talentoso). Os verdadeiros objetivos parecem ser as bases (estabelecidas imediatamente) e um gasoduto do Turcomenistão até o Oceano Índico através do Afeganistão e Paquistão (criado em maio de 2003). A guerra é contra os muçulmanos, os quais nunca se renderão a infiéis, contra a umma (comunidade de fiéis) composta por 1 bilhão e 560 milhões de muçulmanos espalhados por 57 países comprometidos a defender o Islã com a espada quando sentirem-se pisoteados, e contra uma motivação tríplice: proteger o Islã contra o secularismo, proteger as autonomias locais contra Cabul e contra as forças nacionais e globais que instrumentalizam Cabul na imposição de um estado unitário, e contra serem invadidos. A guerra produz mais resistência do que elimina, e EUA-NATO produzem suas próprias inseguranças dado à alta probabilidade de vingança.
Tese 4: A invasão do Iraque em 19/Mar/2003, usando o 11/9 como pretexto, foi baseada em mentiras, e é contraproducente. Nenhuma prova foi jamais oferecida de que Saddam Hussein tenha cooperado com a Al-Qaeda, nem que ele estivesse na posse de armas de destruição em massa. Os verdadeiros objetivos parecem ser petróleo (não só as pipelines) e bases. O Iraque é um país artificial que foi idealizado pelo Reino Unido para ter o petróleo de Kirkuk-Mosul e Basra em uma só colônia, dividida entre curdos e árabes, com os árabes divididos entre sunitas e xiitas. Os curdos têm fortes ligações com curdos na Turquia-Irã-Síria, e os árabes xiitas com os xiitas árabes no Irã. A imposição de um estado unitário está fadada ao fracasso, assim como uma dominação a partir de Bagdá. A guerra produz mais resistência do que elimina, e EUA-NATO produzem suas próprias inseguranças através de vinganças.
Tese 5: O conflito subjacente à violência atroz do 11/9 é entre os EUA e a Arábia Saudita, por conta dos acordos petrolíferos de março de 1945 e do uso da Arábia Saudita como área de ação nas guerras contra o Iraque na década de 1990. Na Terra Santa do Islã, onde o Profeta esteve à frente de uma cidade-estado de 622 a 632 D.C., a religião nacional é um wahabismo que mantém que “a boa vida era a vida na época do Profeta” e “não haverão duas religiões na Arábia “. Hipótese: “O 11/9 foi a execução sumária de dois edifícios, por terem pecado contra Alla’h”; compatível com a versão oficial de que 15 dos 19 jovens seqüestradores eram sauditas. E não houve repetição, visto que punição é aplicada somente uma vez, sem mencionar a escolha dos edifícios-alvo. Estava o quarto avião se dirigindo para a CIA em Langley, Virgínia?
Tese 6: A tese de conspiração do 11/9 como sendo uma obra maquiavélica dos EUA (-Israel) para mobilização contra o mundo muçulmano é insustentável. Há muitas perguntas sem respostas, e o relatório da Comissão, focando em atos de omissão, e não nos de comissão, dos EUA, acrescenta ainda mais. Contudo, a experiência generalizada após quase 250 intervenções militares dos EUA desde 1805 (em Tripoli), é que os EUA inventam pretextos e uma mídia domesticada e maleável coopera; sem necessidade de matar 3.000 e destruir valores de monta.
Tese 7: Não houve um esforço sério no sentido de resolver os conflitos subjacentes através de mediação e reconciliação; como também para o 7 de julho de 2005 em Londres, mas não para o 11 de março de 2004 em Madrid — ambos atrozes, atos totalmente inaceitáveis. O PM espanhol, Zapatero, retirou as tropas espanholas do Iraque, foi a Rabat dialogar com o rei Mohammed VI, regularizou o status de quase meio milhão de imigrantes ilegais marroquinos (desde que tenham encontrado emprego), e iniciou com a PM Erdogan da Turquia, sob os auspícios das Nações Unidas, uma Aliança de Civilizações . Um exemplo a seguir.
Tese 8: A mídia cobriu a guerra-violência, mas sem análises, sem propostas. Uma análise de excertos no World Press Review do segundo semestre de 2001 mostra descrições detalhadas e solidariedade com os EUA como vítima, mas nenhuma explicação, exceto “pobreza”. Sem propostas. Sem jornalismo de paz.
Tese 9: A República dos EUA, pela sua reação ao 11/9, acelerou muito seu processo de auto destruição. Os Patriot Acts I e II, a vigilância implacavel da população americana e outras, torturas e rendições extraordinárias, tudo isto destrói o espírito democrático de dentro para fora, além da destruição da economia por três guerras extremamente caras. (teses 2-4).
Tese 10: O Império dos EUA se auto destruiu também na forma como reagiu ao 11/9. As coligações ou coalizões de países de boa vontade [coalitions of the willing] seguiram-se, mas muitos reverteram para a má vontade, parando de cooperar. O resto do mundo, enquanto isto, assistia à distância. Acumularam-se as contradições econômicas, assim como as não-vitórias militares, acentuando a não-atenção e a falta de fé nos EUA como “excepcional”. A magia se foi, mas não só. Países como a Turquia-Irã-Rússia-China começaram a trabalhar; algo se apresenta já no horizonte, e não se tratam de vitórias, ditando os resultados finais, nem de derrotas. Eles se retirarão antes disto. Algo pior: a irrelevância de US-NATO.
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Tradução de Antonio C. S. Rosa.
This article originally appeared on Transcend Media Service (TMS) on 26 Sep 2011.
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