(Português) A Mídia Está Perdendo a Grande História dos Animais
ORIGINAL LANGUAGES, 20 Apr 2015
Peter Fricker - ANDA Agência de Notícias de Direitos Animais
Alan Rusbridger, editor do jornal britânico The Guardian, escreveu recentemente sobre a dificuldade da grande mídia em cobrir a ameaça da mudança climática.
“O jornalismo tende a ser um retrovisor”, escreveu Rusbridger. “Nós preferimos lidar com o que aconteceu, não com o que vai acontecer. Nós damos preferência ao que é excepcional e visível a todos ao invés do que é comum e escondido (…) Pode haver outras coisas significantes e extraordinárias acontecendo, mas elas podem estar ocorrendo muito lentamente ou de forma invisível para o tique-taque impaciente das redações ou para conseguir capturar a atenção de um leitor assediado a caminho do trabalho”.
Ele poderia estar falando sobre qualquer assunto importante envolvendo mudanças sociais que estejam “ocorrendo lentamente e de modo invisível”, incluindo a mudança no status dos animais em nossa cultura e os impactos que pode ter em tudo, de leis contra crueldade animal a nossas dietas ao meio ambiente.
Por exemplo, em 2012, um grupo de cientistas proeminentes assinou algo chamado Declaração de Cambridge sobre a Consciência, na qual eles expressam seu apoio à visão de que os animais são conscientes do mesmo modo que os humanos. Isto pode não parecer muita coisa (o que talvez explique a falta de repercussão da declaração na cobertura da mídia) mas é de todo modo historicamente importante por que apoia o reconhecimento da senciência animal — a capacidade de ter experiências positivas e negativas, como sentir prazer e dor.
Atitudes humanas em relação aos animais têm sido fortemente influenciadas pela visão de Descartes de que os animais são meras “máquinas” sem nenhuma consciência ou sentimentos. Uma declaração pública feita por neurocientistas renomados reunidos em Cambridge pode parece só uma afirmação do que muitos de nós já acredita ser evidente, mas representa uma mudança profunda de séculos de pensamento equivocado sobre os animais.
Enquanto isso, evidências científicas de inteligência e senciência animal continuam a se acumularem. Essas evidências têm grandes implicações para o bem estar e os direitos animais, já que coloca a difícil questão: como podemos ignorar os interesses de seres sencientes que pensam e sentem de formas parecidas com a nossa?
Mesmo com toda essa transformação radical no pensamento sobre o status dos animais, boa parte da mídia não conseguiu percebê-la. Com que frequência vemos noticiários da noite terminarem com imagens de animais bebês nascidos em zoológicos, sem a menor pista de que esse cativeiro é controverso? A CBC e outras grandes corporações de mídia ainda cobrem rodeios como “esporte”, apesar de que praticamente todas as organizações de bem-estar animal os consideram desumanos.
Outra grande (e associada) mudança social que é majoritariamente esquecida pela grande mídia é o crescimento e disseminação da pecuária intensiva. Claro, houve reportagens-denúncia de casos de crueldade animal em fazendas como essas (geralmente com ativistas pelos animais fazendo as investigações sigilosas, não os jornalistas), mas raramente elas discutem a crueldade institucionalizada inerente à agricultura animal moderna. Além disso, a maioria das pessoas ainda não sabe dos dramáticos impactos ambientais da agricultura animal industrializada. As Nações Unidas afirmam: “O setor de pecuária emerge como um dos dois ou três principais responsáveis pelos mais graves problemas ambientais em todas as escalas, do local ao global”. Mas você não verá muitos editoriais sobre o assunto.
Recentemente, o Washington Post publicou uma matéria sobre o aumento preocupante nas taxas de crescimento de galinhas reproduzidas a partir de seleção para ganhos de peso rápido e não-natural. A história fez pouquíssima referência ao bem estar das galinhas ou ao fato de que elas sofrem de dolorosos ossos quebrados, mancam e desenvolvem doenças do coração como resultado deste crescimento. Além disso, este tipo de reprodução tem sido realizado desde 1950. Agora é que vocês chamam nossa atenção para isso?
Enquanto isso, o modelo de criação intensiva foi adotado ao redor do mundo, da China à Europeia Oriental à América do Sul, com bilhões de animais confinados e tendo seus comportamento naturais mais básicos negados e massivos impactos ambientais.
A grande mídia também tem sido devagar em compreender a crescente reação à pecuária intensiva por parte daqueles preocupados com seus efeitos no bem estar dos animais, no meio ambiente ou na saúde humana. Por exemplo, o movimento da Segunda Sem Carne foi descrito em 2013 por um colunista de um jornal de Vancouver como “o mais novo esquema sem pé nem cabeça”, apesar de ter sido criado pela Escola John Hopkins de Saúde Pública em 2003 e ser ativo em 36 países.
Felizmente, alguns dos principais conglomerados de mídia, principalmente o New York Times, estão começando a prestar atenção a questões que envolvem comida, bem estar animal e agricultura intensiva. A revista Economist publicou recentemente uma análise abrangente dos negócios que produzem alternativas vegetais aos produtos de carne e de derivados do leite.
Mas será que essa atenção veio tarde demais? Talvez, mas as mudanças na prática jornalística ainda podem fazer a diferença. O Guardian se comprometeu a pôr a mudança climática “no centro”, dedicando uma parte da sua home page para o tópico mesmo que “nada excepcional” tenha acontecido naquele dia. Talvez esta seja uma abordagem que toda a mídia deveria considerar quando coisas importantes estão acontecendo “lentamente e de forma invisível”.
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Peter Fricker é gerente de projetos e comunicação na Vancouver Humane Society.
Este artigo foi publicado pela primeira vez no portal Georgia Straight, em 15 de março de 2015.
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