(Portuguese) Palestina, um Povo em Marcha pela Libertação

ORIGINAL LANGUAGES, 14 Jun 2010

Editorial, Brasil de Fato – TRANSCEND Media Service

Não se derrota 62 anos de colonialismo israelense com duas semanas de mobilizações, mas as lutas de agora vão se transformando numa onda.

Desde 1948, o povo palestino vive uma tragédia: foram expulsos de suas terras e de suas casas e tiveram suas propriedades roubadas ou destruídas pelo chamado Exército de Defesa de Israel. Vilas e cidades palestinas vêm sendo constantemente destruídas durante os 62 anos da Nakba (“A tragédia”). Milhares de pessoas seguiram o caminho do exílio e os refugiados palestinos já chegam a 5 milhões. E, ainda assim, milhares seguem resistindo dentro dos territórios ocupados por Israel.

Em 1967, o expansionismo israelense se intensifica. Novas colônias e assentamentos judeus-sionistas são criados em Gaza, Cisjordânia e Jerusalém, agora tomada militarmente pelo exército colonialista, em mais um desrespeito às resoluções da ONU sobre a questão palestina. No Plano de Partilha da Palestina de 1947, Jerusalém seria uma cidade neutra, administrada pela ONU, com garantia de que todos os locais sagrados do judaísmo, do cristianismo e do islamismo fossem respeitados por todas as forças envolvidas no conflito. Além disso, Israel ocupa militarmente as colinas de Golan, que são da Síria. A única resolução da ONU que Israel respeitou até aqui foi a da sua própria criação.

Israel segue hoje como o único país do Oriente Médio com armas nucleares, ou seja, armas de destruição em massa. Fala-se de 200 ogivas. Mordehai Vanunu, físico nuclear israelense, que denunciou o programa nuclear de Israel, comprovando sua finalidade bélica, ficou 18 anos na prisão, sendo 16 na solitária, depois foi para a prisão domiciliar, com proibição de se comunicar com qualquer estrangeiro por quaisquer meios. Agora, voltou para a cadeia acusado de tentar fazer contato com outros seres humanos ligados ao Movimento pelo Fim das Armas Nucleares no Oriente Médio.

De acordo com a ONU, Israel não tem nenhuma autorização para exercer o controle sobre o litoral de Gaza, território palestino banhado por águas internacionais, portanto, com livre acesso a todos que queiram chegar ou sair dessa região, transportando pessoas e/ou produtos.

Após o covarde ataque israelense contra a frota de barcos que levava ajuda humanitária para Gaza, voltam novamente as perguntas: é possível deter a escalada de terror e violência praticada por Israel em 62 anos de colonialismo na Palestina? É possível uma coexistência pacífica com governos sionistas-colonialistas-imperialistas? Quais medidas precisam ser tomadas, e por quem, para impedir que o governo de Israel continue o genocídio contra o povo palestino?

A resistência palestina já desenvolveu as mais diversas formas de luta. Entre 1964 e 1988, a Organização para a Libertação da Palestina (OLP) dirigiu o processo de mobilização anti-colonialista e desencadeou uma incrível luta de libertação nacional que deu esperanças para as massas populares de todo o mundo árabe. Enquanto uma frente de cerca de 10 partidos políticos (nacionalistas laicos/nasseristas e comunistas/socialistas), a OLP seguia como a única e legítima representante do povo palestino.

De 1988 a 1994, novos personagens surgem e o fim da URSS e do Bloco Socialista fizeram desencadear uma crise também no interior da esquerda palestina. A Al-Fatah (Movimento de Libertação Nacional), organização majoritária na OLP, empurra a resistência palestina para a mesa de negociação, mas em condições bastante desfavoráveis para o povo palestino. Os “acordos de paz” firmados com Israel em 1994 alimentam ilusões e ignoram a natureza expansionista/imperialista do Estado de Israel, que negocia e, ao mesmo tempo, faz crescer o número de colônias judias nos territórios palestinos ocupados em 1948 e 1967.

Nessa conjuntura complexa, se projeta como uma alternativa política o partido Hamas (Movimento de Resistência Islâmica). A crise política, ideológica e organizativa dificulta a ascensão da esquerda palestina (Frente Popular para a Libertação da Palestina, Frente Democrática para a Libertação da Palestina, Partido do Povo Palestino). As denúncias de corrupção e de enriquecimento de muitos dos dirigentes demonstram um processo de degeneração em setores importantes da Al-Fatah. As eleições de 2006 contribuem para acirrar as disputas internas no movimento da resistência palestina, com Hamas vitorioso em Gaza e Al-Fatah na Cisjordânia. A esquerda palestina tem procurado convocar todas as forças progressistas, populares, democráticas e de esquerda a se unir num grande movimento nacional de resistência para desencadear novamente uma ofensiva contra as medidas do governo de Israel que visam a acelerar o processo de expropriação de terras do povo palestino.

Nesse momento de indignação também ocupam um papel importante e mesmo decisivo as massas populares e a classe operária dos países árabes, que podem pressionar seus governos a romper relações diplomáticas e comerciais com Israel como medida concreta de represália pelo constante desrespeito por parte de Israel às inúmeras resoluções da ONU sobre Gaza. Romper o bloqueio sobre Gaza pode ser o início de um novo ciclo de mobilizações que empurre as organizações palestinas para uma unidade programática e política mínima contra o principal inimigo: o governo do Estado Sionista de Israel.

Não se derrota 62 anos de colonialismo israelense com duas semanas de mobilizações, mas as lutas de agora vão se transformando mais uma vez numa onda, que pode se desmanchar quando chegar próxima à areia ou que pode se transformar num enorme tsunami de lutas populares em todo o mundo árabe, que vá obrigando os governos a tomar medidas mais duras e mais concretas contra Israel.

Ainda é cedo para dizer qual será o resultado dessa estupidez e insensatez cometida pelo governo israelense, mas já é possível perceber um maior isolamento político internacional de Israel. O momento é propício para as forças democráticas, populares, progressistas e de esquerda denunciarem mais uma vez o caráter colonialista e racista do sionismo, essa ideologia expansionista que tem alimentado o ódio e a violência que movem a máquina de guerra israelense.

A unidade nacional da resistência palestina e a crescente influência das forças de esquerda nesse processo, além das mobilizações de massa dentro e fora da Palestina, podem ser elementos importantes para alterar a correlação de forças numa perspectiva de fazer avançar a luta pela criação de um Estado Palestino Laico e Democrático nos territórios ocupados em 1948 e em 1967, criando assim condições para que a questão nacional palestina seja, mesmo que tardiamente, resolvida.

Apesar das dificuldades, ainda é possível acreditar que nada pode deter a luta desse povo pela sua libertação.

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