(Português) A Vida de Fraudes do Homem que Aumentou Um Comprimido para a SIDA [AIDS] de 13,5 para 750 Dólares: Foi Preso
ORIGINAL LANGUAGES, 21 Dec 2015
As acusações têm a ver com uma fraude anterior, mas é possível que o ato que levou Martin Shkreli a ser odiado na internet tenha a ver com as suas dívidas pessoais.
19 dez 2015 – O Daraprim é um medicamento usado para tratar as infeções ditas parasitas, em especial ligadas à sida, mas também à malária. Para os fins a que se destina, parece que é o mais eficaz no mercado. Cada comprimido custa cerca de um dólar a produzir, e era vendido por 13,50 até setembro. Nessa altura, a companhia que o fabrica foi vendida, e o Daraprim passou a custar 750 dólares por comprimido. O responsável por esse aumento foi um homem de 32 anos chamado Martin Shkreli. Pelo seu espantoso ato de ganância, e sobretudo pelo modo como o justificou no Twitter, dizendo que tinha de olhar pelos acionistas da Turing Pharmaceuticals e insultando toda a gente que o criticava, tornou-se uma das pessoas mais odiadas na internet. Esta quinta-feira foi preso pelo FBI.
Os crimes de que é acusado não têm a ver com a Turing. Há anos, Shkreli foi CEO (chief executive officer, ou presidente executivo) de um fundo de investimentos de risco à custa do qual terá enriquecido mediante esquemas fraudulentos. Um dos esquemas seria a utilização de contratos fictícios de consultoria em benefício de acionistas noutro fundo a que ele estava ligado onde também havia cometido vigarices que sairam caras a gente que confiara nele. No fundo, tratava-se de um típico “esquema Ponzi”, envolvendo informações falsas sobre os ativos que de facto possuíam as empresas na qual ele tentava convencer os investidores a meter dinheiro. Uma das especulações agora feitas é que o aumento de preço do Daraprim teve justamente a ver com a necessidade premente de liquidez em consequência da situação nas companhias anteriores de Shreli, que haviam resultado em dívidas enormes para ele.
Infelizmente para o seu próprio bem, não foi discreto. Além dos seus posts desagradáveis no Twitter, deu nas vistas com a aquisição, extremamente ‘high profile’, da única cópia de um álbum de um conhecido grupo musical. Essa indulgência custou-lhe dois milhões de dólares. Também anunciou que ia gastar milhões a pagar a fiança de um artista rap que se encontrava preso. E enquanto fazia gala do seu estilo de vida faustoso na internet, multiplicava as práticas criminosas na sua empresa, incluindo pagamentos não declarados e faturas com datas falsas.
Um vigarista precoce
Os esquemas já vinham de longe. Logo no seu primeiro emprego, na Cramer Berkowitz & Co, Shkreli sugeriu que se apostasse contra o valor das ações de uma determinada empresa de biotecnologia, e as ações desceram. Nessa altura ele tinha 19 anos. As autoridades suspeitaram de acesso a informação confidencial, mas não conseguiram apurar nada. Anos depois, após terminar a universidade, Shkreli criou o seu próprio fundo de investimentos e os truques continuaram. Em 2011, por exemplo, fez descer as ações de outras duas empresas contra as quais tinha apostado mediante o estratagema de solicitar às autoridades que não licenciassem determinados medicamentos que elas propunham. Os medicamentos acabaram por ser aprovados, mas nessa altura as empresas já tinham passado um bocado difícil e perdido valor
A má fama do jovem estava a crescer, também por causa de antigos empregados que o acusaram de lhes ter roubado as contas de email e Facebook e de os assediar, bem como às suas famílias. Agora sabe-se que ele omitiu os seus problemas prévios, fazendo declarações falsas, quando registou o seu segundo fundo. O importante eram as aparências. Para esse filho de emigrantes (pai albanês, mãe croata) que cresceu pobre em Brooklyn antes de atravessar o rio para Manhattan, nenhuma publicidade era de mais e a fuga era sempre para frente.
Acima de tudo, ele confiava no seu brilhantismo intelectual, que era real. Uma das primeiras pessoas a investir no seu fundo explicou ao diário “New York Times”: “Deem-lhe um manual de química e ele devolve-o ao fim de nove meses e memorizou tudo. É uma esponja para informação”. Já hoje, Shkreli compareceu num tribunal federal, tendo pago uma fiança de 5 milhões de dólares (4,6 milhões de euros) para aguardar em liberdade o desenvolvimento do seu processo.
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